Ou Pimentel é muito bobo… ou de bobo não tem nada. Eu fico com a segunda opção

Ou Pimentel é muito bobo… ou de bobo não tem nada. Eu fico com a segunda opção

O governador de Minas Gerais, FERNANDO PIMENTEL (foto: José Cruz/Agência Brasil)

Por David Ribeiro Jr.

Eu já escrevi sobre isso antes, e volto a afirmar agora, que a entrevista do governador Fernando Pimentel concedida na manhã de ontem (26/07) à Rádio 98 FM encerra em si um planejamento estratégico muito mais elaborado do que parece à primeira vista (leia mais aqui)

Vamos aos fatos!

Rombo nas contas públicas do Estado

Pimentel começou a entrevista explicando que recebeu um estado endividado, com um rombo de aproximadamente R$ 10 bilhões no orçamento do primeiro ano. A informação não pode ser contestada. De fato, o governo anterior, que tinha como titular, por último, Alberto Pinto Coelho, que assumiu o Estado quando Antônio Anastasia se lincenciou para disputar o Senado, admitiu que havia um déficit (rombo) nas contas públicas de aproximadamente R$ 6,5 bilhões — que, em minha opinião, já é muito —, mas que foi aumentado depois de o então governador eleito, Fernando Pimentel, pedir aos deputados para não votarem o orçamento que estava em pauta na Assembleia para o ano seguinte, e, com isso, criou um problema ainda maior para a sua gestão (leia mais aqui).

Investimento social

O governador também criticou duramente o presidente Michel Temer por fazer o que os esquerdistas chamam de “cortes sociais”. Pimentel disse que as contas públicas em Minas Gerais serão saneadas, sim, mas sem “os tais cortes sociais”. Eu concordo com o governador de que esses cortes são ruins, mas ninguém pode negar que, em algumas circunstâncias, são necessários, e ele sabe muito bem disso. O governador não explicou, por exemplo, porque o seu governo suspendeu o programa “Poupança Jovem”, que estimulava mais dedicação dos estudantes do Ensino Médio, e por que ainda não pagou os prêmios aos últimos formandos do Ensino Médio que tinham direito ao bônus. Isso mesmo: Quem se formou até 2016 no Ensino Médio tinha — ou melhor, tem — direito ao bônus do Poupança Jovem. Mas não recebeu e nem sabe se e quando receberá. Nem posição sobre o assunto o Governo dá.

Cidade Administrativa

O governador Pimentel deu a entender que parte do problema das contas públicas se deve ao fato de o ex-governador Aécio Neves ter construído a “Cidade Administrativa” que teria custado cerca de R$ 2 bilhões. Não é o que está na prestação de contas do Governo. Lá conta que o valor da obra foi de R$ 1,2 bilhão. E mesmo esse valor foi obtido pela CODEMIG através de financiamentos. Não gerou nenhum rombo nas contas públicas — não que eu esteja defendo a obra. Só estou tentando ser coerente com os fatos.

Além do mais, a inauguração da Cidade Administrativa resultou na economia de uma considerável soma em aluguéis que eram pagos pelo Governo, além de concentrar todo o atendimento do Estado em um só lugar. Do ponto de vista da gestão, foi importante, sim. Mas como foi feito por outro governo…

Escola da Lajinha

O governador criticou a forma como encontrou a Escola Estadual da Lajinha, em Teófilo Otoni, que funcionava em um motel da comunidade. É claro que aquilo não era o melhor para aqueles alunos. O que Pimentel não disse, e quem não é da Lajinha talvez não saiba, é que o tal motel era um prédio que estava fechado e que foi alugado pelo Governo do Estado de então por oferecer todas as condições para atender aos alunos, até mais do que o prédio antigo oferecia, enquanto um novo era construído (o projeto da construção da nova escola foi do governo anterior. O novo governo, de Pimentel, apenas o executou). E já que a Educação é prioridade do governador, ele bem que poderia dizer por que houve tantos atrasos do repasse do transporte escolar em seu Governo, por que cortou o Poupança Jovem, e por que não tem o mesmo cuidado que teve com a escola da Lajinha com outras escolas na zona rural Estado afora, cuja situação é muito pior do que a Escola da Lajinha estava no tal motel.

Hospital Regional de Teófilo Otoni

Em resumo, eu já disse ontem o que penso sobre o fato de o governador dizer que não vai retomar, por enquanto, as obras do Hospital Regional de Teófilo Otoni (leia aqui). Em minha opinião, e assumo, isso é apenas uma opinião, trata-se apenas de uma estratégia para mexer com o ânimo das pessoas e fazer com que os deputados da cidade desassociem a sua imagem do Hospital. Quando isso ocorrer (os deputados se desassociarem da obra do hospital), o governador, talvez um mês depois, ou que sejam dois ou três, voltará atrás e anunciará um malabarismo nas contas públicas do Estado para dar esse presente para o povo de Teófilo Otoni e região. E aí o mérito será apenas de Pimentel, e não dos deputados.

Longe do PT

No meu texto de ontem estranhei o fato de Pimentel não ter cumprimentado o prefeito Daniel Sucupira, que é do seu partido e que o tem defendido muito. Lembrei, inclusive, que Daniel, apesar de uma ou outra crítica eventual de alguns segmentos, tem surfado numa onda de popularidade que seria importante para o governador. E mesmo assim Pimentel se distanciou de Sucupira e de outras lideranças do seu partido naquela entrevista.

O que penso é que Pimentel, que está partindo para uma estratégia de tudo ou nada para se reeleger, preferiu se distanciar de Daniel e de outros companheiros naquele momento porque ele sabia — mais do que isso, ele queria — que a entrevista deixasse o moral da população em baixa com o propósito de depois, quando enfim trazer uma boa notícia, envolver os seus companheiros no anúncio dessa eventual boa notícia. Você duvida? Espere e aguarde!

Ah! E detalhe: Embora Pimentel tenha dito, na entrevista, que é cedo para falar em reeleição, nos bastidores o processo de composição de uma estratégia de campanha está a pleno vapor (leia aqui).

Concluindo

Volto a dizer que a entrevista de Pimentel ontem na Rádio 98 FM fazia parte de uma elaborada estratégia que tinha um propósito bastante específico: recuar um passo, politicamente, para dar dois depois. Meu amigo Maurício… aquele que lê tudo com um olhar crítico, duvida de mim. Ele acha que Pimentel é aquilo mesmo e pronto: um verdadeiro picolé de chuchu, como os petistas costumam chamar o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Foi, inclusive, o meu amigo Maurício quem chamou a minha atenção para aquela estratégia do governador de travar o orçamento do Estado em seu primeiro ano, e cujos resultados foram enormes transtornos na condução e gestão das contas públicas de Minas desde então.

Sim, neste quesito o Maurício tem razão. Mas eu ainda insisto que um homem da envergadura de Pimentel não cometeria o mesmo erro duas vezes. Quando os policias militares de alguns estados começaram a deflagrar greves, Pimentel respondeu concedendo reajustes salariais e enviando viaturas antes mesmo de os problemas surgirem em Minas. E ele ia pessoalmente entregar esses veículos e se mostrar à tropa.

Gostando você ou não do governador Fernando Pimentel, não se pode negar o homem seja um estrategista. E mais: Há quem defenda que ele não sabe a besteira que fez ao afirmar que não retomará as obras do Hospital Regional. Eu penso que não é bem assim, que ele sabe, sim, o que fez, e que não há besteira nenhuma nisso. Trata-se, insisto, de uma estratégia. O que acredito é que: ou Pimentel é muito bobo… ou de bobo não tem nada. Eu fico com a segunda opção.

Bem… poderíamos avaliar neste editorial alguns outros pontos abordados na entrevista do governador, afinal, foram quase vinte e cinco minutos de fala. Mas esses outros pontos vamos deixar para depois, ouvindo, inclusive, pessoas mais aptas a falarem sobre os referidos temas do que eu.

Aguarde!

Quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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