Por David Ribeiro Jr.

O governador Fernando Pimentel (PT) jogou um balde de água fria nas expectativas de “muita gente” na manhã de hoje quando, ao conceder uma entrevista de mais de vinte minutos ao competente jornalista Vanilson Souza, do programa “Conexão 98” (Rádio 98 FM), não anunciou a tão aguardada retomada das obras do Hospital Regional de Teófilo Otoni. Ao contrário, deixou bem claro que, pelo menos por enquanto, o Estado não tem recursos para levar as obras adiante.

Nas últimas semanas, diante da grave crise que vivemos na saúde pública regional, o anúncio da retomada das obras vem sendo aguardado ansiosamente por toda a população. E, ao se propor, por si mesmo, a conceder uma entrevista à emissora de rádio que é, reconhecidamente, a mais popular da cidade, esperava-se que Pimentel fizesse um grande anúncio — como a retomada das obras do Hospital Regional, por exemplo, e até algo mais, como um importante programa de políticas públicas para a nossa cidade.

As apostas na entrevista eram enormes. Mas eis que ela ocorre e…

E nada!

Pimentel conseguiu durante quase meia hora dizer nada com coisa nenhuma. Não anunciou nenhuma obra, não anunciou nenhum importante programa ou convênio para a cidade ou região, admitiu que o Estado está com pelo menos um mês de repasse atrasado para os hospitais públicos… e, em resumo, foi só isso.

Quase meia hora para dizer… nada!

Isolou-se

Estranhamente, o governador se esqueceu de cumprimentar até mesmo o prefeito Daniel Sucupira, que, além de ser presidente da AMUC e tesoureiro da AMM, é o único prefeito eleito pelo PT entre as cidades-polo, e prefeito da cidade em que a emissora de rádio para a qual Pimentel falava está situada.

Pois é! E Pimentel se esqueceu dele — de Daniel. E se esqueceu, também, de mandar um abraço para os companheiros que lhe dão sustentação na cidade e região. Era o mínimo que se esperava do governador.

Eu até compreendo que Pimentel não queira se apresentar como governador do PT em outras regiões; mas aqui, dada à popularidade do prefeito Sucupira, era de se supor que o governador quisesse pegar carona nessa popularidade. O homem é governador e precisa de base. E, pelo menos naquela entrevista, deu uma banana para a sua base.

Deputados

Pimentel foi especialmente indiferente — ou indelicado, se você preferir o termo — com os deputados da cidade e região. Fabinho Ramalho (PMDB), além de ser hoje o vice-presidente da Câmara, é da sua base de apoio no Congresso. Neilando Pimenta (PP) também é da sua base de apoio na Assembleia. O Dr. Jean Freire (PT), com forte penetração em Teófilo Otoni, é do partido do governador e o defende de unhas e dentes em todos os lugares… e mesmo assim toda essa galera de deputados foi jogada de escanteio. Até imagino os ânimos deles neste momento.

Pior: Mesmo depois de os deputados da base de Pimentel anunciarem o compromisso do governador de retomar as obras do Hospital Regional, o governador deu uma banana pra eles também.

Agora a minha opinião:

Tudo o que escrevi nas linhas acima são fatos. Concorde você ou não, tudo aí é fato. Agora, permita-me dar uma opinião. O que vou escrever a partir daqui é, assumo, opinião. Apenas especulação.

Eu penso que a entrevista concedida por Pimentel, ao contrário do que muita gente pensa e analisa, foi extremamente estratégica. Bobo ele não é, ou não teria se tornado governador do Estado. Eu penso que a negativa do governador Fernando Pimentel para retomar as obras do Hospital Regional esconde uma estratégia muito mais bem-elaborado do que parece à primeira vista

Agora vamos analisar o que há de estratégico no que ele fez, disse ou deixou de dizer:

Os deputados da cidade queriam muito tomar partido e colher dividendos políticos em cima das obras do Hospital Regional. O governador, naquela entrevista, jogou um balde de água fria nas pretensões dos deputados e deixou claro que não tem dinheiro para retomar as obras. Ponto.

Mas, para isso, precisava dar entrevista?

Claro que não! A lógica gerencial era que ele se mantivesse calado e empurrasse o problema um pouco mais para frente.

Então, por que o próprio Pimentel se propôs a falar?

De novo eu insisto: O que vai a seguir é apenas uma opinião, uma especulação que faço com base na minha convivência política, mas nada mais do que isso. Por favor, não confunda o que vai a seguir com fatos concretos.

Antes, alguns detalhes importantes: Fontes ligadas ao Departamento de Estado de Obras Públicas (DEOP) dão conta de que, de fato, o processo para a retomada das obras do Hospital Regional de Teófilo Otoni segue a todo vapor, inclusive com previsão orçamentária para as obras serem retomadas e só pararem quando forem concluídas. Segundo essas fontes há garantia de recursos para a obra começar e terminar. Inclusive isso já foi dito, também, pelos nossos deputados, uma vez que obtiveram essa informação com algumas das mais altas autoridades do próprio Governo do Estado.

Porém, ao dizer que não há dinheiro para a obra, o que entendo é que o governador deixa todo mundo triste… e tira a importância dos deputados deste projeto.

Daqui a um mês ou dois, quando os deputados já estiverem tentando até desassociar a sua imagem da obra (que por essa altura será um problema para eles, e não algo que renda dividendos políticos), Pimentel retomará ao assunto e dirá que, por reconhecer a necessidade da população, e em nome do seu compromisso para com a saúde regional, fez um verdadeiro malabarismo na contabilidade do Estado para assegurar os recursos necessários para a retomada das obras. Quando isso ocorrer, e com a imagem dos deputados desassociada da obra, e do Hospital Regional como um todo, o mérito será apenas do governador Pimentel, e de mais ninguém.

Hoje, mais tarde, farei outro texto analisando algumas coisas que foram ditas pelo governador em sua entrevista, e que reforçam o meu ponto de vista.

Aguarde!

Mas, desde já, insisto num raciocínio inicial: O governador deu um chega-pra-lá nos nossos deputados e vai tentar puxar o mérito da obra do Hospital Regional apenas para si mesmo.

Quem viver, verá!