José Mujica, ex-presidente do Uruguai, defende fortalecimento da democracia brasileira

José Mujica, ex-presidente do Uruguai, defende fortalecimento da democracia brasileira

Homenageado com o Grande Colar da Inconfidência, o ex-presidente do Uruguai participou da celebração da Medalha da Inconfidência em Ouro Preto

José Pepe Mujica ressaltou, em seu discurso, a importância do fortalecimento da democracia brasileira (foto: Marcelo Sant´Anna/Imprensa MG)
José Pepe Mujica ressaltou, em seu discurso, a importância do fortalecimento da democracia brasileira (foto: Marcelo Sant´Anna/Imprensa MG)

Orador oficial da 65ª Medalha da Inconfidência, o ex-presidente do Uruguai e senador José Pepe Mujica ressaltou, em seu discurso, a importância do fortalecimento da democracia brasileira e da participação dos jovens no desenvolvimento da política para “lutar por um mundo melhor”. Mujica foi homenageado pelo governador Fernando Pimentel com o Grande Colar, maior honraria concedida pelo Estado de Minas Gerais.

“A função da política é lutar por um mundo melhor e também buscar permanentemente as inevitáveis diferenças. É negociar as inevitáveis diferenças que se apresentam na sociedade. Insisto nesse ponto porque o pior resultado que se pode ter para as novas gerações, com o conflito que se está vivendo no Brasil, é que muita gente jovem termine concluindo que a política não serve para nada e são todos iguais”, afirmou.

Para o ex-presidente uruguaio, “caso essa juventude se reclua e cada um deixar de fazer sua parte, estaremos construindo a selva, com todos contra todos. Há que se salvar a política. Há que dar estatura à política e isso não é um problema de partido, é um problema do Brasil”.

Mujica ressaltou que é característica própria de uma democracia estar em constante evolução, para não se limitar ao ato de votar. “Todos sabemos que a democracia nunca foi reconhecida perfeita e não pode ser, porque é uma construção humana e os seres humanos não são deuses. Porque nossa história pessoal nos dá ou nos tira pelo que se foi. Os homens são semelhantes, mas cada um é particular, diferente, e como não somos perfeitos, a sociedade tem e terá sempre conflitos”, completou, dizendo que “democracia não é só votar a cada quatro ou cinco anos. É acrescentar o sentimento de igualdade básica entre os homens.”

Outro ponto forte em seu pronunciamento foi a defesa do protagonismo do Brasil na América Latina e a união dos países da região que, segundo Mujica, “tem problemas e sonhos em comum”. “O Brasil é muito grande, muito forte, mas tem muitas feridas. Há que se defendê-lo, mas há que se entender que já não estamos no século passado e o desafio é outro. Estão construindo unidades mundiais de caráter gigantesco, como a comunidade econômica europeia, e, se os latino-americanos não conseguirem uma voz comum no arranjo internacional, não seremos nada”, ponderou, acrescentando que “o Brasil é um país grande e que tem de se dar conta dos desafios que tem pela frente e cumprir o seu papel histórico de grande potência”.

Em coletiva à imprensa, Mujica evitou comentar o aspecto constitucional do momento político brasileiro, mas defendeu o resultado das urnas. “Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem. Não gosto que corrijam o voto do povo”, destacou, acrescentando que a sua maior preocupação “é com os que pagam a conta, não com os que estavam discutindo no Congresso”.

Perfil

Conhecido popularmente no Uruguai como Pepe Mujica, o ex-presidente José Alberto Mujica Cordano governou entre os anos de 2010 e 2015, tendo assumido o cargo de senador desde então. Durante a ditadura civil-militar em seu país, entre 1973 e 1985, militou na guerrilha como membro do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros e ficou preso durante 14 anos. Exerceu os cargos de deputado, ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca e presidente pro tempore do Mercosul.

Em seu discurso na Medalha da Inconfidência, Mujica se definiu: “Eu me sinto muito uruguaio e sou brasileiro porque sou americano, porque sou da América Latina. Minha pátria se chama América Latina. Meus irmãos, todos os pobres esquecidos da América Latina. Os que não chegaram em nenhum lugar, os que são apenas um número, os estigmatizados, os perseguidos, os esquecidos”.

(Agência Minas)



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