Coleção de plantas da Epamig apresenta pesquisas sobre espécies ameaçadas de extinção

Coleção de plantas da Epamig apresenta pesquisas sobre espécies ameaçadas de extinção

Trabalhos de revisão taxonômica podem auxiliar políticas governamentais de preservação e manutenção de espécies típicas de Minas Gerais

Foto: Pedro Veras/EPAMIG

O Brasil possui a flora mais rica do mundo. Por isso, o trabalho de identificação e classificação de espécies botânicas realizado em herbários de todo o país é necessário para a atualização de dados, que servem de referência para ações e políticas de preservação ambiental de diversas plantas, dentre elas aquelas ameaçadas de extinção.

O Herbário Pamg da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) comporta o quarto maior acervo do estado, com aproximadamente 59 mil exsicatas (plantas desidratadas em estufa e montadas em papel cartonado).

O conhecimento sobre a evolução das características das plantas, gerado por meio dos estudos genéticos, fazem com que as espécies saiam de determinadas famílias e passem a integrar outras, o que ocasiona a necessidade de constantes atualizações de nomenclatura e identificação.

Em pesquisas desenvolvidas ao longo de 2022 e 2023, a equipe do Herbário Pamg Epamig revisou e atualizou os registros taxonômicos de algumas espécies de duas famílias botânicas: Eriocaulaceae e Velloziaceae. Algumas dessas espécies estudadas são endêmicas de Minas Gerais, ou seja, ocorrem apenas no estado mineiro, e se encontram em risco de extinção.

“A listagem dessas espécies e a disponibilização dos dados dessas exsicatas auxiliam estudos de conservação e preservação, à medida que outros órgãos e pesquisadores podem usar essas informações presentes no Herbário Pamg Epamig”, explica a aluna de graduação em Ciências Biológicas da PUC Minas, e bolsista-estagiária do herbário, Grazielle Resende.

Atualizações sobre riscos de extinção

A estudante foi a principal responsável pelos dois trabalhos, cujos resultados foram apresentados em formato de pôster, durante o 15º Workshop do Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal da UFMG, no início deste mês. As apresentações podem ser conferidas nos seguintes links: https://www.youtube.com/watch?v=5x00D7YVJm4 e https://www.youtube.com/watch?v=pzfhehVytLA.

As identificações, atualizações taxonômicas e registros de localização das espécies foram feitas com base em bibliografias especializadas, comparação entre imagens de exsicatas de diferentes herbários virtuais, e por meio de consultas a especialistas nas respectivas famílias. O portal Reflora, mantido pelo Governo Federal, também foi consultado.

Segundo Grazielle, a família das Eriocaulaceae, popularmente conhecidas como sempre-vivas, possui 591 espécies registradas atualmente, das quais 92 encontram-se no acervo da Epamig. No trabalho, ela apresentou um recorte do gênero Paepalanthus, e atualizou os registros de algumas espécies, que se encontram nas categorias “Em perigo de extinção” (Paepalanthus hydra e Paepalanthus globulifer) e “Vulneráveis” (Paepalanthus aureus e Paepalanthus pulvinatus).

Já a família das Velloziaceae, chamadas de canelas-de-ema, possui 229 espécies registradas, com 38 delas presentes no Herbário Pamg Epamig. Atualmente, quatro encontram-se ameaçadas de extinção e integram a categoria “Em perigo”: Vellozia glabra, Vellozia lilacina, Vellozia metzgerae e Vellozia piresiana.

“É uma família bastante característica dos campos rupestres, principalmente na região da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, que é muito explorada pela mineração. Algumas pesquisas revelam que, até 2070, a composição original dos campos rupestres pode ser perdida em 82%, extinguindo plantas que só existem ali”, comenta Grazielle Resende.

Plantas de importância ecológica e econômica

Outros fatores que podem levar essas espécies à extinção são a especulação imobiliária, atividades agropecuárias sem fiscalização e o turismo desenfreado.

Os registros atualizados no Herbário Pamg Epamig poderão ser acessados por órgãos responsáveis pela elaboração e execução de políticas de proteção ambiental, como a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“Esses trabalhos contribuíram muito para o Herbário PAMG EPAMIG, pois permitiram a atualização de dados sobre espécies de plantas endêmicas no Brasil, que agora estão com imagens e etiquetas de identificação devidamente digitalizadas e acessíveis. É uma documentação para a flora mineira”, conta a pesquisadora da Epamig e curadora do herbário, Andreia Fonseca.

Segundo a pesquisadora, que é co-autora dos trabalhos, algumas dessas espécies são fundamentais não apenas para a biodiversidade da flora brasileira, mas também para atividades econômicas.

“As Eriocaulaceae possuem um papel extremamente importante socioeconomicamente, pois são utilizadas para a confecção de artesanato, que é uma das principais fontes de renda da população da região. Então, a extinção dessas plantas pode ocasionar um aumento na vulnerabilidade dessas comunidades”, conclui Andreia.

 



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