Quanta hipocrisia! Os mesmos que enalteceram a parada gay agora criticam deputada federal Brunny Gomes por dançar funk

Quanta hipocrisia! Os mesmos que enalteceram a parada gay agora criticam deputada federal Brunny Gomes por dançar funk

Por David Ribeiro Jr.

O Brasil é realmente um país estranho e, por vezes, contraditório. Ninguém é capaz de entender com certeza o que é considerado moralmente aceito e o que não é. Um exemplo é o que ocorreu recentemente com a parada gay de São Paulo. O evento, que neste ano resolveu partir para a apelação afrontando de forma clara os dogmas e símbolos cristãos, foi considerado por grande parte da imprensa como um marco da democracia e da liberdade de expressão. Errado, na opinião de um monte de gente bacana, foram os deputados que, na Câmara Federal, se irritaram contra a profanação dos símbolos cristãos. E veja bem: a Constituição, de fato, permite o direto de todo cidadão se expressar, inclusive confrontando qualquer religião. Mas não foi isso o que ocorreu na parada gay. O que foi visto ali não foi um confronto, e sim uma afronta, um amontoado de atos maldosos e desrespeitosos. Basta fazer uma busca na internet e você verá imagens horrendas de pessoas profanando os símbolos sagrados, inclusive simulando sexo homossexual com santos da Igreja Católica. Acha pouco? Continue pesquisando e encontrará imagens que chegaram ao extremo — pessoas literalmente enfiando crucifixos e outros objetos sagrados no ânus e na vagina. E é isso mesmo que você leu. A isso a maior parte da imprensa chamou de “liberdade de expressão”. … Como bem disse o jornalista Reinaldo Azevedo, se fizessem algo parecido com símbolos de religiões africanas, imediatamente o Ministério Público pediria a instauração de inquérito para apurar crime de racismo, de preconceito e de desrespeito à religião alheia.

Mudando agora de assunto, bastou circular na internet um vídeo da deputada federal Bruniele Ferreira da Silva, a Brunny Gomes, de 25 anos, dançando funk num baile em Governador Valadares, que um monte de gente começou a “jogar pedra”. Como eu não vi nada demais no vídeo, pelo menos nada que a televisão aberta já não esteja acostumada a mostrar no horário comercial e nobre, até fiz questão de postar o vídeo aqui em baixo. Assista-o.

Viu só?… O que tem demais no vídeo?… Na minha opinião, nada. Pelo menos nada que os programas vespertinos de sábado e domingo na TV aberta não mostrem toda santa semana. Mas aí alguém pode argumentar que a Brunny é uma deputada federal e que deve se dar ao respeito. Mas eu insisto: a quem ela desrespeitou no vídeo? A mim, não. A você que está me lendo agora? Convenhamos que também não. O ocorrido se deu em um lugar fechado, em um clube, e só foi parar na internet porque alguém ligou a câmera do celular, e depois, mesmo sem o consentimento das pessoas mostradas, postou o vídeo na internet. Assim, em minha opinião o que houve ali foi invasão de privacidade — isso sim.

Alguns podem dizer que a Brunny ainda não era deputada naquele momento e que, portanto, ninguém pode julgá-la pelo que fez. Mas eu penso que nem é por aí. Este não é o caminho. Brunny, na ocasião, já havia sido eleita e, de fato, deveria agir como se espera de uma deputada. Mas volto a questionar: em que a sua dança ofende alguém ou peca contra o decoro parlamentar? Ela estava apenas se divertindo junto com algumas amigas em um ambiente privado. Se você acha isso vulgar, que não termine de ver o vídeo, oras!

E antes que alguém me interprete errado, não estou aqui defendendo a deputada Brunny. Não a conheço, nunca estive com ela, nunca falei com ela e, portanto, não tenho nenhum motivo para defendê-la. O que estou fazendo aqui é dando a minha opinião sobre algo que penso ser óbvio: o direto de todo mundo se expressar, desde que com isso não agrida nem ofenda ao outro. E ela não fez nada disso. Ela não desrespeitou nem agrediu ninguém.

Querem saber o que penso do funk? É melhor eu nem dizer. Todos aqueles movimentos me fazem lembrar a dança do tamanduá africano. Não vejo a menor graça. Mas respeito o gosto dos outros, afinal, o funk é uma das maiores expressões da cultura popular brasileira. Basta ver o caso do vídeo Show das Poderosas, da cantora Anitta. Mais de 100 milhões de visualizações. É como se um em cada dois brasileiros já tivessem assistido ao vídeo só no canal oficial da cantora no youtube. E quem não se lembra da princesa Paola de Orleans, trineta da Princesa Isabel, que gosta de funk e atua como DJ?… Uma princesa, hein?!… Então, se Brunny gosta de funk, sendo ela deputada ou não, não é da minha conta, como também não é da sua conta. É um direito que ela tem. E ninguém deve patrulhá-la por causa disso.

Alguns podem insistir em dizer: “mas eu pago o salário dela”… E daí? Se você tem uma empregada na sua empresa, vai despedi-la só porque a moça gosta de dançar funk nos finais de semana? Desde quando isso implica em competência nas atividades do dia a dia? E, de todo modo, se não estiver satisfeito, que demita a sua empregada. E no caso da Brunny, que não vote mais nela para deputada nas próximas eleições. Mas julgá-la por ter a coragem de se divertir entre amigos é de uma hipocrisia incomensurável. Ainda mais num congresso onde volta e meia se ouve falar de deputados que usam sua verba indenizatória para pagar prostitutas e acompanhantes.

Quem agride mais a população brasileira? Brunny com a sua dança, ou a nossa musa maior, a Dilma das pedaladas, que foi eleita prometendo um Brasil cor de rosa, e agora o pinta com vermelho sangue para os brasileiros? … Quem faz um mal maior, a Brunny com a sua dança, ou a Dilma, que atribuiu ao seu adversário aquilo que ela começou a fazer no dia seguinte à eleição presidencial?

Eu, de minha parte, prefiro ver os nossos 513 deputados federais dançando funk do que uma Dilma pedalando (não as pedaladas na sua bicicleta, mas as outras, as pedaladas fiscais).

 



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