O canadense que se descobriu intersexual ao ganhar barba e menstruar

O canadense que se descobriu intersexual ao ganhar barba e menstruar

Por Mary Ribeiro 

Somente na década de 1990, o cineasta canadense Alec Butler, que até então chamava-se Audrey, descobriu que sua "condição" chamava-se intersexualidade. Foi então que ele decidiu adotar um nome de homem, deixar a barba crescer e assumir de vez seu lado masculino
Somente na década de 1990, o cineasta canadense Alec Butler, que até então chamava-se Audrey, descobriu que sua “condição” chamava-se intersexualidade. Foi então que ele decidiu adotar um nome de homem, deixar a barba crescer e assumir de vez seu lado masculino

Alec Butler nasceu em 1959 com o nome feminino de Audrey. E foi criado como uma menina. No entanto, aos 12 anos, quando entrou na puberdade, ele percebeu que não era como a maioria das garotas. Junto à menstruação e aos seios desenvolvidos, Alec começou a ganhar barba. Após décadas de bullying, em meados da década de 1990 ele se deparou com o termo intersexual – alguém cujo sexo anatômico, hormonal e genético não é nem completamente masculino nem feminino – e encontrou sua identificação. As informações são da rede britânica BBC.

“Eu tinha 12 anos quando a ´ficha´ finalmente caiu: minha barba começou a crescer e tive minha primeira menstruação. Foi algo realmente confuso para mim. Meus pais estavam assustados. Levaram-me para alguns médicos, mas ninguém na pequena cidade do Canadá em que vivia sabia o que era ser intersexual. Um médico disse que ‘era melhor colocá-la em um sanatório até que ela aprenda a se vestir como uma menina e usar maquiagem'”, disse à BBC.

Embora tenha sido criado como menina e tenha características femininas, como os seios e a menstruação, Alec sempre foi mais masculino. Mas ele só teve coragem de mudar o nome de Audrey para Alec e deixar a barba crescer a partir da década de 1990, quando se tornou um premiado roteirista e cineasta.

 

Bullying – Alec nunca teve problemas com a família, que, segundo ele, sempre foi muito afetuosa e o aceitou. No entanto, a escola foi dura.

“Era bem difícil naquela época para uma menina usar calças compridas. Senti-me sob pressão para tomar hormônios femininos, apesar de querer ser menino. Implicavam comigo na escola. Tive problemas porque gostava de uma garota, e ela gostava de mim também. Tudo deu muito errado porque eu não era realmente um menino. Me chamavam de lésbica. As crianças gritavam para mim ‘você é doente’ e, na sala de aula, recebia bilhetinhos sugerindo que cometesse suicídio.”, conta.

Em 1978, após terminar os estudos, Alec – que na época ainda era Audrey – mudou-se para Toronto e passou a se apresentar como uma lésbica masculina. “Era uma forma de formar uma comunidade, encontrar apoio e me sentir aceita”, explica. Mas até isso lhe causou problemas. “Lésbicas masculinas, infelizmente, são alvo de muito ódio até hoje. Sofria ameaças diariamente na rua”.

Embora tome testosterona, Alec afirma que gosta de seu corpo como é e não deseja mudá-lo. “Eu gosto de ter seios, mas tomo testosterona por uma razão de saúde: eu ainda menstruo, apesar de meu médico ter dito que eu já deveria estar na menopausa. Mas não estou e as menstruações são fisicamente muito duras para mim”, explica.

Para Alec, o aumento no número de jovens canadenses se identificando como não-binários ou intersexuais é algo a ser comemorado. “Gostaria que isso tivesse acontecido há 40 anos, pois eu teria tido uma vida menos traumática.”, disse. Ainda segundo ele, a cirurgia para definição do sexo é mais importante para os pais do que para as crianças intersexuais em si, mas isso já está começando a mudar.

Fonte: Veja 



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