‘Já chorei demais vendo a morte dos peixes’, diz pescador do Rio Doce

‘Já chorei demais vendo a morte dos peixes’, diz pescador do Rio Doce

Rio foi atingido por lama após rompimento das barragens em Mariana. Pescadores não sabem o que vão fazer após a piracema.

“A situação é muito triste, nunca pensei que isso poderia acontecer. Deus está me confortando”, diz pescador que vive a beira do Rio Doce, local que está sendo atingido por lama após rompimento de barragens no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), na quinta (5).

Edmo Rabeira tem 49 anos e é filho de pescador. Ele aprendeu a atividade com o pai e trabalha com pescaria desde criança. Foi com essa renda que o pescador criou as quatro filhas. “Passei a vida inteira mexendo com peixe. Agora estou desempregado”, diz.

Pescador tenta salvar peixes que estão agonizando (Foto: Tiago Lopes / Intertv dos vales)
Pescador tenta salvar peixes que estão agonizando (Foto: Tiago Lopes / Intertv dos vales)

Assim como Edmo, cerca de 50 pescadores fazem parte da Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Doce (Apard). Durante a piracema, que começou neste mês, eles recebem parcelas do seguro-desemprego, correspondente a um salário mínimo.

O presidente da entidade, José Francisco de Abreu, disse que não deve ter uma temporada de pesca em 2016. Segundo ele, o rio levará quatro ou cinco anos para se recuperar.

O pescador Sérgio Moreira Dias, de 53 anos, sobrevive da pesca há oito anos e ainda não sabe o que vai fazer da vida após a piracema. “Não sei como vou sobreviver. Os peixes já tinham diminuído e agora, com esse impacto ambiental, vai piorar”, afirma.

Ele diz que não conseguiu segurar as lágrimas diante do cenário de destruição. “Já chorei demais vendo a morte dos peixes. É a primeira vez que passo por isso”, conta emocionado.

Mortandade elevada

Em Naque, cidade que é cortada pelo Rio Doce, os peixes estão sendo encontrados mortos desde domingo (08). A polícia ambiental não conseguiu avaliar a quantidade, mas afirma que os danos são imensuráveis.

“Espécies como piau, traíra, cascudo e dourado foram encontrados sem vida. A população está retirando alguns peixes que estão agonizando no leito do Rio Doce e levando para o Rio Santo Antônio”, afirma o tenente Átila Porto.

De acordo com ele, a situação é preocupante na cidade, e a mortandade dos peixes é considerada elevada. “Estão sendo feitos boletins de ocorrências separados para detalhar melhor o problema”, conta.

A polícia ambiental trabalha com duas hipóteses em relação à morte dos animais. “Pode estar ocorrendo uma falta de oxigenação na água, o que ocasiona a morte dos peixes, e também possíveis substâncias tóxicas na lama”, afirma. As ocorrências registradas sobre os impactos ambientais serão encaminhadas ao Ministério Público Estadual.

Análise

Na bacia do Rio Doce, 15 cidades foram atingidas pela lama e rejeitos das barragens. Em nota, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) informou que solicitou ao Centro de Tecnologia e Inovação SENAI FIEMG – Campus CETEC a realização de coletas e análises de água e sedimentos dos corpos de água afetados, bem como do rejeito das barragens. O Rio Doce será monitorado em toda a sua extensão.

Ainda de acordo com a nota, serão analisados a condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, pH, temperatura, sólidos totais, sólidos dissolvidos totais, sólidos em suspensão totais, turbidez e arsênio, além da presença de alumínio, ferro, cobre, manganês, cádmio, chumbo e mercúrio.

Contaminação
Segundo Marcílio Bicalho, referência em vigilância ambiental da Superintendência Regional de Saúde em Valadares, os peixes que estão sendo encontrados no rio não devem ser consumidos. “Não temos uma análise sucinta da contaminação e não sabemos qual a quantidade de química que pode estar dentro da água”, afirma.

Ainda de acordo com Marcílio, não é possível dizer se a lama pode atingir e contaminar poços artesianos e cisternas. Ele afirmou que pode ter ferro e chumbo na água, e que a superintendência tem dado apoio aos municípios para impedir a contaminação da população.

Abastecimento
O abastecimento de água em algumas cidades do Leste de Minas está prejudicado. Em Tumiritinga, a água está suja, mas a lama ainda não chegou. Mesmo assim, a prefeitura já interrompeu a captação. A cidade está sendo abastecida através de caminhões-pipa com água de poços artesianos.

Em Galileia, o abastecimento foi interrompido desde domingo (08), e a água também é distribuída por caminhões-pipa. Em Governador Valadares, a captação de água foi interrompida na segunda-feira (09) e a prefeitura criou um plano de emergência para garantir o abastecimento, que está sendo feito através de caminhões-pipa.

Já em Resplendor, a água suja chegou na tarde dessa segunda-feira (9). A Copasa suspendeu a captação no Rio Doce, mas voltou a pegar água na madrugada desta terça-feira (10), depois que análises feitas comprovaram que era possível fazer o tratamento. A captação será novamente interrompida quando o grosso da lama chegar à cidade. A previsão, segundo a Prefeitura, é de que seja no fim da tarde desta terça-feira (10).

Lama atingiu Usina de Baguari, em Valadares (Foto: Ana Carolina Magalhães/Inter TV dos Vales)
Lama atingiu Usina de Baguari, em Valadares (Foto: Ana Carolina Magalhães/Inter TV dos Vales)

Fonte: G1 Vales de Minas



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