“As curas de Jesus”, por Paiva Netto

“As curas de Jesus”, por Paiva Netto

José de Paiva Netto é jornalista, radialista e escritor | paivanetto@lbv.org.br (foto: Divulgação LBV)

No capítulo 19, versículos 11 e 12, dos Atos dos Apóstolos de Jesus, o médico-evangelista Lucas relata: “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam”.

Ante essa passagem, recordei-me de uma página de A face oculta – Inusitadas e reveladoras histórias da Medicina, de autoria do médico e escritor gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011), cujo título destaca “As curas de Jesus”. Trata-se de capítulo instrutivo de uma obra que prende totalmente a atenção de quem a lê. Eis alguns trechos:

“Ao longo de sua passagem pela Terra, a figura de Jesus vai se modificando: temos primeiro o bebê que nasce na manjedoura, depois o menino que assombra os sábios no templo, depois o pregador que arrebata multidões, o líder irado que expulsa os vendilhões. E há também – muito importante – o Jesus que cura: ‘Eis que se aproximou um leproso, prostrou-se diante dele e disse: Senhor, se quiseres, poderás limpar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-o e disse: Quero, fica limpo. No mesmo instante o homem ficou livre da lepra’ (Mateus, 8:1). A esta cura seguem-se muitas outras: coxos, aleijados, cegos. O ápice desta sequência é a ressurreição de Lázaro, em que a própria morte é derrotada. Numa época em que a medicina praticamente inexistia, as curas de Jesus arrebatavam multidões.

“Mesmo porque nisso, como em outras coisas, Jesus era revolucionário. O Antigo Testamento fala muito sobre o corpo e suas doenças, mas detém-se sobretudo nas medidas sanitárias. A lepra, para voltar a um exemplo anterior, é objeto de minuciosas prescrições no Levítico. O suspeito da doença deve ser levado a um sacerdote que, mediante critérios previamente estabelecidos, fará o diagnóstico, e declarará o estado de ‘impureza’ que se traduz em rígido isolamento do doente. A doença, sobretudo a doença epidêmica, é vista como castigo divino, e não é de admirar que o Senhor recorra às pragas para intimidar o Faraó. Por outro lado, há muitas regras para manter a saúde: regras de limpeza corporal, regras dietéticas, regras sobre como vestir. Não há curas, muito menos mágicas. A exceção é o episódio em que o profeta Elias ressuscita uma criança; curiosamente Elias, que foi arrebatado ao céu num carro de fogo, é considerado um precursor de Jesus”.

Eliseu, discípulo de Elias, faz sarar o general Naamã. Era leproso. O profeta mandou-o lavar-se no rio. Curou-se.

E prossegue o dr. Scliar:

“Em resumo: o Antigo Testamento é o domínio da saúde pública; o Novo Testamento introduz a medicina curativa, individual. 

“O cristianismo herdou de Jesus a tarefa de cuidar dos doentes. Os hospitais foram, caracteristicamente, instituições cristãs e durante a Idade Média os frades eram os depositários da medicina. Com o que uma imensa necessidade social era atendida, como o demonstram, no Brasil, as Santas Casas”. 

Parabéns ao saudoso dr. Moacyr Scliar! Focalizou um assunto muito importante e de maneira toda especial. Presta-se a vários estudos essa esclarecida visão dos Antigo e Novo Testamentos. 

Saúde Espiritual

Ainda sobre a saúde espiritual e física, numa entrevista que concedi à jornalista portuguesa Ana Serra, em 19 de setembro de 2008, recebi dela a seguinte indagação:

“No livro Reflexões da Alma [2008] o senhor evidencia a ligação entre o Espírito e o corpo, sendo que a tranquilidade da alma pode sarar o corpo. De que forma? Essa paz de espírito está acessível a todos?”

Ao que respondi: Minha prezada colega, tudo é originário do Espírito. O corpo é a nossa vestimenta provisória. Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já trabalha a importância da saúde espiritual. Há muitas pesquisas sérias que indicam como a Espiritualidade influencia o bem-estar de um indivíduo. E a ferramenta competente a ser movida para alcançarmos a tranquilidade de Alma é, num orbe tão carente, a prece acompanhada da efetiva ação de Solidariedade (que sempre deveria nortear o serviço dos governos). Contudo, o exercício da oração — nascida da sintonia com Deus ou, para os que não têm crença religiosa, a vivência dos mais elevados sentimentos — sem o efetivo da caridade, somente poderia, em certos casos, transformar-se em mais uma execrável personificação de egoísmo. Para melhor entendimento da Fé espiritual e socialmente ativa, cunhei a expressão Fé Realizante: aquela que nos une aos Poderes Superiores, pacifica nossa Alma e nos motiva a realizar o Bem da sociedade. A Fé Realizante é, portanto, a que impulsiona os desbravadores do progresso no mundo, impedindo a estagnação das comunidades. O seu dever é criar e agir num ambiente sem intolerância, que vem sendo, pelos séculos, um dos maiores tormentos da humanidade. (…)

Como curar o corpo

Então, percorramos o sentido contrário do caminho que leva o homem à doença. Vivamos em ligação com o Pai Celestial. Não descaiamos nas armadilhas que enfermam o nosso organismo. E aí se tornará patente, mesmo ao mais cético dos homens, ou das mulheres, que o respeito às coisas espirituais compõe forte elemento para toda cura. Como já escrevi, os remédios são mais eficientes onde vige o Amor.

José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com

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