Negros são maioria entre os empreendedores no Brasil

Negros são maioria entre os empreendedores no Brasil

Empreendedora de Teófilo Otoni vem se destacando no ramo da gastronomia

Nesta sexta-feira, 20 de novembro, em que se comemora o Dia da Consciência Negra, vale destacar o papel significativo do negro no empreendedorismo do país. Segundo dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), pesquisa realizada entre o instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), com o apoio do Sebrae, eles são maioria entre os empreendedores no Brasil.

A teofilootonense Patrícia Ferreira Manoel driblou o preconceito e tem orgulho de ser quem é. Mulher, negra e lésbica assumidamente, ela não se deixou levar pelos olhares que ainda hoje tentam intimidá-la.

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Em 2008, a empreendedora montou um bar com referências que reforçam a identidade negra, época em que foi campeã do concurso Sabor de Boteco em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais.

Depois disso, Patrícia decidiu fechar o bar para cursar gastronomia em Belo Horizonte, onde teve a oportunidade de trabalhar em lugares famosos na capital mineira como Porcão e no antigo Othon Palace Hotel. Porém, o amor à terrinha falou mais alto e fez com que ela retornasse às suas raízes.

“Eu cheguei a montar um restaurante na Bahia, em Alcobaça, uma cidade muito frequentada por pessoas daqui, onde virei referência de comida boa lá. Depois fui chamada para o Trapiche (Bar) e montei o cardápio lá que foi sucesso, ficamos no segundo lugar no sabor de boteco.

Daí em diante parti para a consultoria fazendo o cardápio de outras empresas da cidade, além de ter sido gerente e chef de cozinha do Hotel Lancaster”, lembra.  

No meio do caminho havia uma pandemia 

Apaixonada por gastronomia, em Janeiro, Patrícia montou o Nega Fulô um estabelecimento que funciona como marmitaria e gastrobar. Acostumada a encarar desafios, ela não contava que no meio do caminho havia a pandemia do coronavírus. Entretanto, a crise não conseguiu parar a empreendedora que passou a cozinhar em casa e viu o negócio deslanchar. De 22 a demanda pulou para cerca de 50 marmitas durante a quarentena.

“No início foi assustador, mas não posso te dizer que a pandemia foi ruim comercialmente falando. Não posso te dizer que a quarentena foi ruim pelo menos para mim, porque a pandemia me freou e me fez enxergar um outro lado de comércio, fez com que eu alinhasse o útil ao agradável.

Se eu não estava podendo servir comida presencial , percebi que poderia levar comida na casa das pessoas. Passei a enxergar essa questão das marmitas de outra forma e mudei um pouco a forma de servir e fornecê-las. Hoje forneço comida com cardápio, enviou o cardápio para o cliente e ele escolhe o que quer comer, mudei essa filosofia de ter um cardápio fixo todo dia”, enfatiza.

Marmita personalizada

Apesar das incertezas para o próximo ano, a expectativa é que o negócio seja ampliado e se torne referência em Teófilo Otoni e região. A chef de cozinha também pretende abrir outros segmentos além das marmitas convencionais, como marmitas fitness e low carb.

“Para empreender tem que ser muito determinado, a maior dificuldade que o negro enfrenta ainda é a aceitação. Eu não sofro tanto com isso porque eu construí degraus. O negro tem de aprender a ser referência aonde ele vai, se a gente consegue fazer isso, a cor da pele pode até influenciar , mas a gente consegue vencer.

Nós temos que sentir orgulho de ser negro porque a partir do momento que eu digo que meu lugar tem de ser chamado de nega fulô, as pessoas têm de identificar que é uma negra que comanda. Ou seja, não é apenas um nome é um empreendimento ligado a uma pessoa que é negra”, disse.

Segundo a analista do Sebrae Minas Déborah Constantino Moutinho Santos, o primeiro passo para ter sucesso nos negócios é ser apaixonado pelo que faz, além de buscar conhecimento antes de abrir as portas de um estabelecimento. “O empreendedor enfrenta desafios diários para ver o seu negócio prosperar. Para as mulheres, que na maioria das vezes precisam conciliar diversos papéis, essa dificuldade pode ser ainda maior. Por isso, buscar apoio em instituições como o Sebrae, para obter mais conhecimento e estar melhor preparado, é essencial para o alcance dos objetivos.”   

Racismo 

O empreendedor negro para se destacar nos negócios precisa lutar contra todo um sistema estrutural construído ao longo da história.

“Ele está lutando não apenas com o seu concorrente. O negro precisa ser bom naquilo que faz, não pode ser meia boca e o negro é excelente no que faz, mas ele precisa acreditar nisso. Óbvio que tem as dificuldades financeiras, mas você só vai ter acesso a crédito se aquilo que você faz de melhor é bem feito. É preciso ser autoconfiante. O preconceito e o racismo existem e eu sofro e luto contra isso, mas vai ser maior ainda a partir do momento que eu der valor a ele”, afirmou.

(Pauta enviada para publicação por William de Jesus)



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