Direitistas entendem errado o objetivo da caravana de Lula. Ela cumpre, sim, o seu papel

Direitistas entendem errado o objetivo da caravana de Lula. Ela cumpre, sim, o seu papel

Por David Ribeiro Jr. —

Meu falecido avô já dizia, e isso há mais de vinte anos, que “política é uma ciência”. Hoje estou convencido de que ele tinha razão… e como!

Na época do meu avô, as pessoas não concordaram com ele; insistiam em dizer que uma campanha eleitoral era ganha com dinheiro e grupo político. “Quanto mais dinheiro”, diziam os contemporâneos do meu avô, “e quanto maior o grupo, mais certa será a vitória do candidato”. Meu avô, por sua vez, defendia que uma estratégia inteligente e pessoas capazes de executá-la são o maior ativo de uma campanha eleitoral.

As últimas eleições municipais, aqui mesmo na terrinha, em Teófilo Otoni, demonstraram que o meu avô estava certo. As máximas antigas de que eleição se ganha com um grupo político grande, e com uma enorme conta bancária também, já não se aplicam… se é que algum dia foram, de fato, fatores determinantes. Meu avô, insisto, dizia que não. E eu, claro, tendo a concordar com ele, pois, afinal, mesmo naquela época houve casos de pessoas ricas e de grandes latifúndios políticos que perderam eleições consideradas ganhas até à véspera.

Voltando a Teófilo Otoni, posso recordar, a título de exemplo, o que ocorreu no ano de 2008. A ex-prefeita Maria José Haueisen Freire foi reeleita, mesmo tendo uma minoria de partidos, e com uma enorme rejeição à época. Bastou anunciar a abertura da ZPE, e, com ela, a contratação de dez mil pessoas na semana seguinte — para trabalhar na ZPE — para mudar o quadro eleitoral do dia para a noite. Resultado: Maria José reeleita.

Estratégia e pessoas capazes de executá-la… lembra-se?

Em 2016, no ano passado, o atual prefeito Daniel Sucupira se elegeu com uma minoria absoluta de partidos. E tanto é assim que sua coligação só conseguiu eleger dois vereadores, e com muita dificuldade. Contudo, a sua vitória serviu para demonstrar que o tamanho do grupo político já não é algo tão importante como se dizia ser antes. O dinheiro ainda é um fator a ser considerado, claro!, pois a tal estratégia inteligente precisa ser financiada de alguma forma, mas o dinheiro não é o único fator importante.

Agora… por que fiz toda esta introdução? Simples. Para demonstrar, com exemplos práticos, que a política atual não pode ser mais encarada como se encarava há vinte ou trinta anos. Hoje as coisas mudaram, e mudaram muito, por sinal. Contudo, a falta de percepção política está deixando muita gente a ver navios em algumas situações que se pensava estar dominando e entendendo… mas que os resultados demonstram que não estavam se entendendo coisa alguma.

Um exemplo disso é a percepção completamente equivocada dos direitistas para com a caravana do ex-presidente — e presidenciável — Luiz Inácio Lula da Silva. Ao contrário do que a maioria dos direitistas está pensando, a função da caravana não é angariar votos para Lula e para o PT. Acredite, neste momento ele não precisa disso.

O quê? Como assim?

É isso mesmo que você leu. A caravana de Lula, que já passou pelo Nordeste do País, e nesta semana está visitando a Região Nordeste e Norte de Minas, não visa angariar votos. A função da caravana é “fidelizar” os votos que o PT, e Lula, já têm.

Explicando
O ex-presidente, de acordo com as últimas pesquisas, detém, atualmente, um terço das intenções de votos para presidente da República. Mas, apesar do bom desempenho nas pesquisas, o petista é continuamente bombardeado na mídia com informações que fazem parecer que “Lula será preso amanhã” e que “a Justiça o impedirá de ser candidato” nas eleições 2018.

Ocorre que o PT sabe que “Lula não será preso amanhã” e que, dificilmente, “a Justiça o impedirá de ser candidato”. Então, a coisa certa a se fazer é se opor a essa máxima e ter controle da narrativa apresentando um Lula que já está em campanha. E está mesmo… isso é indiscutível. Nós, da imprensa, até para evitar um conflito desnecessário com os petistas, podemos chamar aquilo que houve na Praça Tiradentes, aqui em Teófilo Otoni, de “ato público”. Mas as pessoas que estavam ali, se tivessem que dizer onde estavam, responderiam, sem pensar duas vezes, que no “comício do Lula”.

Comício…

O que eu penso da estratégia do Lula
Na verdade, o que eu penso, ou deixo de pensar, a respeito da estratégia do Lula é irrelevante. Sério mesmo! Eu não vou influenciar ninguém positiva ou negativamente com o que escrever a respeito. Tudo o que eu escrever aqui é apenas o exercício da minha profissão como produtor de conteúdo. Apenas isso, e nada mais. Mas, se quer mesmo saber, eu penso que, do ponto de vista científico, do ponto de vista do Marketing Político como ciência, o PT está jogando com extrema habilidade o jogo político.

Perceba, você, que o Partido dos Trabalhadores (leia-se Lula) conseguiu reunir todas as vertentes de esquerda em torno de si. O Brasil sequer sabe se Marina Silva, outro nome benquisto pelas esquerdas, será candidata a alguma coisa…

Mas e Ciro Gomes?

Ciro Gomes é apenas uma alternativa útil a uma eventual impossibilidade de Lula se candidatar. Como Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo também o é, e passará a ficar mais em evidência a partir de agora. E, acredite, se preciso, o PT não terá dificuldades para fazer acordos até mesmo com Marina Silva, se for necessário apoiá-la, para não deixar um nome de direita vencer essa bagaça. Em política, já diziam outros antigos — não o meu avô —, o maior pecado ainda é perder.

Por outro lado, a direita está completamente manca neste sentido. Quem será o candidato do PSDB?… Ninguém sabe?

O PMDB terá candidato próprio ou apoiará outro nome?… Também ninguém sabe.

E o DEM?… Esse, então…

Resta-nos a figura quase mítica de Jair Bolsonaro que, nunca tendo sido gestor de coisa alguma, dificilmente conseguirá se projetar mais do que conseguiu até aqui. O mais provável é que se torne uma Marina Silva da direita. Incomoda? Sim. Enche o saco dos adversários? Muito… Mas não passa disso.

E, diante desse quadro aterrador, sem uma alternativa viável do outro lado, pode-se apostar que Lula está, sim, no páreo.

Ah! E antes que alguém diga que está estranhando este texto por causa de tudo o que já admiti pensar sobre o Lula, que fique claro que não mudei de opinião. Ainda continuo pensando tudo o que sempre pensei a respeito do Lula. Ainda penso que ele poderia ter feito infinitamente mais pelo país do que fez, e sem criar esse endividamento gigante que foi criado. O Lula não é a minha escolha para o ano que vem; pelo menos não a minha primeira escolha. Ele, o Lula, já disse que, se eleito, promoverá um monte de referendos para saber o que o povo quer a respeito disso e daquilo. Para mim, isso é comunismo disfarçado para fazer parecer que o povo concorda com os desmandos do governo; mais ou menos como ocorre na Venezuela.

Mas isso é o meu pensamento. Vá tentar explicar isso para um cidadão médio que insiste em dizer que, se ele tem uma televisão de tela grande em sua casa, só foi possível graças ao governo Lula “que tanto fez pelos pobres…” Ninguém, com os argumentos que se usa hoje, vai influenciar esse cidadão. E, com isso, Lula só precisa que esse mesmo cidadão saiba que ele é candidato, sim, e que continue votando no homem.

Concluindo
Lula hoje tem um terço das intenções de voto. Como existe, principalmente nas redes sociais, uma enorme campanha em favor do voto em branco e do voto nulo, que só influenciará direitistas — já que os esquerdistas nunca deixam de votar nos seus —, Lula pode ser eleito, sim, mesmo sem a maioria dos votos, já que os opositores terão ainda menos votos do que ele.

Explico de forma ainda mais prática: ao contrário do que se diz por aí, mesmo que tenhamos uma eleição com maioria de votos brancos e nulos, o pleito não é anulado. Pesquise aí e se certifique do que estou dizendo.

Como acredito que, de fato, haverá um enorme número de votos brancos e nulos no pleito do ano que vem, quem conseguir fidelizar a sua base de votos, tem uma chance enorme de vencer.

E agora, arrematando, qual é o único partido que hoje consegue fidelizar a sua base?

Bingo! Um doce para quem disse “Partido dos Trabalhadores”, o PT.

E quem será o candidato a presidente do Brasil pelo PT?

Lula lá…

Como eu sempre digo, quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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