Vereador Cajaíba acusa, indiretamente, Fábio Lemes de trocar cargos por votos para presidente da Câmara

Vereador Cajaíba acusa, indiretamente, Fábio Lemes de trocar cargos por votos para presidente da Câmara

O vereador José Roberto Cajaíba (PPS) protocolou, na Câmara Municipal de Teófilo Otoni, requerimento cobrando explicações do presidente da Casa, vereador Fábio Lemes (PTdoB), por supostamente trocar cargos na estrutura da Casa por votos para Fábio como presidente (créditos: montagem sobre imagens do Facebook)

Por David Ribeiro Jr.
TEÓFILO OTONI

2017 vinha sendo um ano relativamente tranquilo no meio político teófilo-otonense…

Até à semana passada.

Pois é!… Nos primeiros meses de 2017 até que houve muito disse-que-disse em redes sociais, com algumas duras acusações sendo feitas contra alguns políticos e pessoas públicas, mas a maioria dessas acusações não passaram de leviandades proferidas anonimamente por gente que só queria inflamar o meio político ou liberar um pouco do seu recalque (inveja mau-contida). Infelizmente, em tempos de redes sociais, isso vai se tornar cada dia mais comum. A tendência, de agora para frente, é vermos pessoas desinformadas — mas a maioria dos casos é de gente sem escrúpulos mesmo — se escondendo atrás de postagens anônimas ou feitas de forma mais bem elaborada em perfis fakes (falsos, na gíria das redes sociais) para parecerem verdadeiras com o único propósito de destruir a moral alheia.

Por mais duro que seja admitir isso, essa é a nova realidade… nojenta, imoral, sem nenhuma ética… mas, ainda assim, a nova realidade. Infelizmente, teremos que acabar nos acostumando com esse novo paradigma político-social.

Tendo dito isto, permita-me voltar ao título desta postagem. Na semana passada os bastidores da política local foram duramente abalados depois da divulgação, na sexta-feira (09/06), de um requerimento do vereador José Roberto Cajaíba (PPS) protocolado na Câmara Municipal de Teófilo Otoni naquele mesmo dia pedindo explicações ao presidente da Casa, vereador Fábio Lemes (PTdoB), por supostamente ter trocado votos para se eleger presidente por indicação de cargos na estrutura administrativa da Câmara.

Veja, a seguir, em vermelho, a transcrição do requerimento cuja imagem circulou amplamente pelas redes sociais:

Requerimento 120/17

EXMO. SENHOR PRESIDENTE, DA CÂMARA MUNICIPAL DE TEÓFILO OTONI
Sr. Fábio Lemes

O Vereador signatário, no uso de suas atribuições legais, amparado no Art. 169 do Regimento Interno desta Egrégia Casa Legislativa, vem apresentar o seguinte:

REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES

Nos termos regimentais vigentes, o Vereador, com assento nesta Casa Legislativa, requer a Vossa Excelência, mui respeitosamente, encaminhar a este Gabinete, a relação nominal dos vereadores que receberam o “direito” de nomear cargos na estrutura administrativa da Câmara de Vereadores de Teófilo Otoni, em troca de votos para sua eleição à presidência da Mesa Diretora, bem como a relação das pessoas contratadas em função desse “acordo”, conforme relato de Vossa Excelência feito a esse Vereador no Gabinete da Presidência, no dia 20 de abril, às 18h15, do ano em curso e depois em reunião com os Assessores Parlamentares, no dia 02 de maio de 2017 (terça-feira).

JUSTIFICATIVA: Para conhecimento desse Vereador sobre a lisura que se deu o processo que levou Vossa Excelência à condução dessa Casa de Leis.

Sala das Sessões, 05 de maio de 2017.

CAJAÍBA
Vereador (PPS)

Voltei.
Embora o requerimento seja datado de 05 de maio, só foi protocolado na sexta-feira (09/06). Por quê? Ainda não sabemos. O minasreporter.com não conseguiu apurar o motivo da demora. Mas, convenhamos, isso, neste momento, é o que menos importa.

Denúncia com conteúdo explosivo
É fato que o requerimento do vereador Cajaíba está sendo encarado publicamente como uma denúncia indireta, e, por isso mesmo, tem, de fato, potencial para atingir a moral de toda a Câmara Municipal. O vereador Fábio Lemes foi eleito em 1º de janeiro com o voto de 18 parlamentares (incluindo o dele próprio) contra apenas um voto do vereador Cajaíba, seu concorrente na ocasião (leia mais aqui). Sendo assim, a “denúncia” coloca em xeque os motivos de todos os vereadores que votaram em Fábio Lemes… mas, antes que alguém me interprete de forma equivocada, quando digo que o requerimento coloca em xeque o voto dos vereadores, estou dizendo apenas que o requerimento lança sombras sobre as motivações… apenas isso, sombras… embora eu, particularmente, não esteja afirmando aqui que haja algo de errado. Na verdade, nem o vereador disse isso. Até porque algo assim, uma denúncia dessa natureza, com tal letalidade e prejuízo para a imagem pública de tanta gente, precisa ser embasada em provas cabais — que não deixem margem para dúvidas ou interpretações diferentes. É por isso que foi protocolada em forma de requerimento de informações. Apenas isso.

Outra coisa: essas sombras que foram lançadas sobre os vereadores podem acabar respingando até mesmo na popularidade em que surfa o prefeito Daniel Sucupira, já que é notório que o prefeito foi um dos maiores articuladores para a vitória de Fábio à Presidência da Câmara, que, mesmo sendo de um partido que não o apoiou nas eleições de 2016, é seu amigo.

Na defensiva
Diante da divulgação do requerimento, ou da “denúncia”, como você preferir encarar, a bancada do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), composta pelos vereadores Taquim da Sucam, Professor Felipe Barbosa e Paulinho de Dona Naná protocolaram também na sexta-feira, 09/06, um requerimento endereçado ao presidente da Câmara, Fábio Lemes, cobrando com urgência esclarecimentos sobre o requerimento/denúncia do vereador Cajaíba, uma vez que eles, os vereadores do PTB, embora tenham votado em Fábio Lemes para presidente, não têm, segundo eles, nenhum cargo indicado na estrutura administrativa da Casa Legislativa.

Consequências
Antes de dizer o que penso que vai acontecer a partir desta denúncia, deixe-me voltar ao requerimento dos vereadores do PTB. Os vereadores Taquim da Sucam, Professor Felipe Barbosa e Paulinho de Dona Naná saíram na frente em se proteger de um desgaste político desnecessário. Ao afirmarem que não têm cargos indicados na estrutura administrativa da Câmara, e que querem saber que história é essa, os vereadores estão, na realidade, dizendo para a população, mesmo que por vias indiretas, que, se comprovadas as denúncias, eles não têm nada a ver com isso. Você que me lê agora pode ter certeza de que essa atitude será copiada, de uma forma ou de outra, por todos os demais vereadores. Houve alguns que se sentiram tão indignados que até falaram em quebra de decoro parlamentar por parte do colega Cajaíba por expor uma situação assim tão grave. E, diante disso, volto ao subtítulo deste parágrafo:

Qual será a consequência destas denúncias? Respondo. Apenas um desgaste político para a imagem da Câmara. Apenas isso e nada mais.

Explico.

O vereador Cajaíba pede em seu requerimento que o presidente Fábio Lemes encaminhe ao seu gabinete a relação dos vereadores que tiveram o “direito” de indicar cargos na Câmara em troca de votos, e também a relação das pessoas que ocupam esses cargos afirmando que ouviu isso do próprio presidente da Câmara, e não uma, mas duas vezes. E ao justificar o seu requerimento, Cajaíba explica que só quer saber ter conhecimento sobre a lisura que se deu o processo que elegeu Fábio Lemes. Ponto. É claro que a repercussão não foi assim tão simples, mas é o que está no papel.

O requerimento sequer foi votado pelo plenário. Os vereadores não vão aprovar o requerimento. Mas o buchicho existe.

O que vai acontecer, então?

Simples. Fábio Lemes, caso resolva responder, explicará que nenhum vereador recebeu esse direito, o de indicar cargos em troca de votos, e que não há servidores nomeados em função desse tal acordo. Ponto de novo. E aí vai ficar o dito pelo não dito. A palavra de um contra a palavra do outro. Fábio Lemes pode dizer que não disse isso e Cajaíba pode dizer que entendeu errado, mas que quis ter certeza.

O problema é que uma situação dessas pode desgastar a imagem de toda a instituição Câmara Municipal. Eu até poderia dizer aqui neste texto algo mais sobre o que penso a respeito desta situação. Mas acho que seria chover no molhado. Alguns vereadores falaram até em pedir cassação do mandato do vereador Cajaíba por quebra do decoro parlamentar. Mas ele, evidentemente, vai dizer que apenas protocolou um requerimento cumprindo o seu papel de parlamentar eleito, de fiscalizar a lisura de um processo interno da Casa.

“Mas manchou a imagem de toda a Casa”, você que me lê agora pode dizer.

Sim, é verdade. Acabou manchando a imagem da instituição. Mas é o direito do vereador. Mais do que isso: ele pode dizer até que a sua função.

Vai haver desdobramentos?

Isso só o tempo nos responderá.

Pronunciamentos
Eu liguei pessoalmente para o vereador Cajaíba hoje mais cedo para ouvi-lo a respeito do requerimento. O vereador preferiu não se pronunciar ainda e esperar uma reunião que está prevista para ocorrer hoje à tarde, a partir das 14:00h entre todos os vereadores, para discutirem a situação.

O presidente Fábio Lemes, por sua vez, concedeu uma entrevista ao jornalista Vinícius Rêgo Pessoa, editor-chefe do Jornal Diário de Teófilo Otoni, em que criticou duramente o requerimento, suas motivações e sua divulgação. Contudo, Fábio Lemes deixou claro que, assim como se comprometeu em seu discurso de posse, quer estabelecer o equilíbrio das relações, manter a harmonia e o equilíbrio da Casa e não quer revanchismo. Mas não escondeu a sua indignação com a situação e disse que o vereador Cajaíba tem dificuldade de aceitar o seu comando. Ainda falando sobre revanchismo, Fábio Lemes disse que quer esclarecer toda a situação e espera que o vereador se retrate.

Agora é esperar e ver qual será o próximo capítulo desta novela. O meu medo é que, parafraseando a ex-prefeita Maria José Haueisen Freire, “na briga entre o mar e o rochedo quem sempre se dá mal é o peixe” — que, neste caso, somos nós, o povo.

Quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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