Como as pessoas de bem devem reagir à vitória de Daniel Sucupira

Como as pessoas de bem devem reagir à vitória de Daniel Sucupira

O prefeito eleito de Teófilo Otoni, Daniel Sucupira, e o seu vice, o médico José Roberto Corrêa
O prefeito eleito de Teófilo Otoni, Daniel Sucupira, e o seu vice, o médico José Roberto Corrêa

Por David Ribeiro Jr.
TEÓFILO OTONI

Eu simplesmente detesto as interpretações maniqueístas de mundo. De acordo com essas definições, que insisto em lembrar que abomino, tudo é preto ou branco, bom ou ruim… e todo o resto que você pode imaginar. A pior parte dessa interpretação é quando as pessoas a usam para a política… como se fosse simples assim.

Há alguns séculos foi criado um conceito que tem sido, ao longo do tempo, erroneamente difundido como esquerda e direita. Na concepção original dos termos sendo aplicados à política, a direita era onde se sentavam os membros do parlamento que votavam a favor do governo. À esquerda era onde se sentavam os membros que votavam contra o governo.

Com o tempo as coisas foram mudando. A partir de Marx Direita passou a ser uma designação a ser dada aos políticos que defendiam um estado mínimo e uma maior liberdade da iniciativa privada. Esquerda passou a ser uma designação para os políticos que defendem um estado macro, um estado inchado e com maior participação ativa na vida dos seus cidadãos.

Tendo dito isto, cabe dizer que as duas definições têm ganhado nos últimos anos quase que uma interpretação maniqueísta. Para quem pensa assim, de forma maniqueísta, e defende os conceitos do estado mínimo, a direita é o bem e a esquerda é o mal. Para quem defende um estado máximo, a avaliação é contrária: a esquerda representa toda a força do bem e a direta as forças do mal.

Se a minha opinião tem algum valor para você, saiba o que penso de tudo isso: é uma grande e monumental idiotice. É uma tolice que, além de emburrecer, causa enormes prejuízos à sociedade. É claro que há coisas boas entre as ideias de esquerda e coisas boas na visão direitista de mundo. O problema maior é quando as pessoas levam essa visão maniqueísta de política a sério, ou seja, como se tivesse que ser uma coisa ou outra, direita ou esquerda, como se os dois conceitos não pudessem coexistir harmonicamente um cedendo espaço para o outro em algum momento. Essa coexistência é o que se pode chamar de civilidade. E é aí que entra o que pretendo com o título deste editorial.

Eu admito que algumas vezes usei em meus textos termos como esquerdopatia. E não vou apagar nenhum desses textos ou mudar o termo usado ali apenas por causa da vitória de um prefeito de esquerda em nossa cidade. Todo mundo que me lê sabe que me identifico muito mais com as ideias que atualmente costumamos chamar de direitistas do que com aquelas defendidas pela esquerda. Contudo, há algo que respeito ainda mais do que a minha visão política de mundo: a democracia. E na democracia as pessoas de bem respeitam a opinião da maioria e as regras do jogo político do Estado de Direito. E aí voltamos à nossa ideia original: como as pessoas de bem devem reagir à vitória de Daniel Sucupira para a Prefeitura de Teófilo Otoni? Simples. Da única maneira apropriada para esta situação: desejando o sucesso da administração de Daniel Sucupira assim como se desejava o sucesso da administração do prefeito Getúlio Neiva.

Mas… e no caso de quem não desejava o sucesso da Administração do prefeito Getúlio Neiva?

Não se tratava de uma pessoa de bem. Simples assim.

Toda e qualquer pessoa tem o direito de não gostar do prefeito Getúlio Neiva e até de desejar o seu mal (embora isso seja uma atitude bem pouco cristã). Do mesmo modo, toda e qualquer pessoa tem o direito de não gostar do futuro prefeito Daniel Sucupira e até de desejar o seu mal (mas, de novo, insisto que se trata de uma atitude bem pouco cristã). Mas há algo que, definitivamente, não se encaixa no perfil das pessoas de bem: nenhuma pessoa de bem, cristã ou não, torce contra uma Administração Municipal. Pessoas de bem — e inteligentes, claro! — entendem que o fracasso de uma administração também representa o fracasso de sua cidade, e seu por conseguinte. Portanto, pessoas de bem torcem contra ideias, e não contra governos. Não precisa torcer nem mesmo contra outras pessoas. Pra quê?… Isso é idiotice. É coisa de gente baixa, de gentinha mesmo.

Pessoas de bem têm todo o direito a uma opinião política, e até de manifestarem a sua visão de mundo — ainda que essa visão se choque contra as pessoas eventualmente no poder. Eu mesmo tenho a minha opinião e me considero uma pessoa de bem. E pessoas de bem não torcem contra ninguém apenas por causa de uma visão de política diferente. Pessoas de bem agem como pessoas de bem o tempo todo, e não apenas quando é politicamente conveniente.

Vamos explicitar ainda mais este entendimento. Vamos fazer aqui uma pequena conta: Daniel Sucupira foi eleito com o voto de 30.293 cidadãos de nossa cidade. No mesmo pleito Getúlio Neiva obteve 24.249 votos e Paulo Henrique Coimbra 11.440. Os votos nulos foram 7.130. Os brancos foram 2.918 votos. E Roberto Marcos, 545. Isso implica em dizer que entre os 76.575 eleitores que compareceram às urnas em 02 de outubro, Daniel Sucupira obteve apenas 39,56% dos votos — menos de 40% portanto, o que está longe de uma maioria absoluta.

Para os picaretas, o fato de Daniel não ter recebido o mandato por escolha da maioria dos cidadãos desta cidade não dá a ele legitimidade para governar. … Uma ova! Esse argumento é furado e vagabundo; e tão falso quanto nota de três reais. Numa democracia existem algumas regras que definem o jogo. E as regras vigentes para a escolha do prefeito de nossa cidade determinam que o vencedor é aquele que teve o maior número de votos entre os eleitores que compareceram às urnas. Sendo assim, Daniel Sucupira ganhou legitimamente. Não cabe mais nenhuma interpretação à sua vitória. E, sendo assim, é hora de respeitar as regras do jogo e deixar o vencedor fazer o trabalho que foi eleito para fazer. Dizer que o prefeito eleito será ruim antes mesmo de iniciar o seu mandato é de uma baixeza… até me faz pensar na possibilidade de inventar uma palavra nova: direitopatia.

Todos vocês que me leem sabem o quanto, em nome da democracia, defendi aqui mesmo no minasreporter.com o direito do prefeito Getúlio Neiva administrar e levar adiante os seus planos e projetos, afinal, ele foi eleito para isto. E antes que alguém me acuse de vendido, sugiro que vá antes ao Portal Transparência — já que isso virou moda ultimamente. E, modéstias à parte, sou muito orgulhoso para não me sujeitar a receber nada por fora, caso isto tenha passado pela sua cabeça também. Ocorre que, do mesmo modo como sempre agi como um democrata no caso do prefeito Getúlio Neiva, também agirei como um democrata no caso da Administração do prefeito Daniel Sucupira. Do mesmo modo que teci críticas à Administração do prefeito Getúlio Neiva — nunca foram apenas elogios — sem, contudo, nunca o ter desrespeitado, se sentir que é necessário, também criticarei a Administração do prefeito Daniel Sucupira, mas também não o desrespeitarei. Até porque gente de bem, como deixei bem claro neste editorial, não se opõe a outras pessoas. Se opõem a ideias. E, mais importante: pessoas de bem não torcem contra uma administração. Podem até se opor ao projeto dessa administração, mas não torcer pelo seu fracasso. Gente de bem sempre torce pelo sucesso de uma administração, indiferentemente do que possa pensar da pessoa do administrador. Gente de bem sabe que o sucesso da administração da sua cidade é, pelo menos em parte, o seu sucesso também.

E é por isso que termino este editorial com a seguinte pergunta: “você é uma pessoa de bem?” Então, sabe exatamente o que tem que fazer.

Quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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