BH, primeira capital planejada no país, tem 98 ruas de terra aos 118 anos

BH, primeira capital planejada no país, tem 98 ruas de terra aos 118 anos

Moradores vivem até hoje em áreas sem pavimentação na primeira capital planejada no país. Poeira e lama viram ameaça à saúde até em áreas próximas de cartões-postais como a Pampulha.

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Na Rua Adutora, na Região Leste, um bota-fora em plena via piora a situação, aumentando os riscos à saúde de moradores e dificultando a passagem (Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

O empresário Antônio Carlos Meireles se cansou de esperar a Prefeitura de Belo Horizonte pavimentar a Rua Major Messias Menezes, no Bairro Bandeirante 2, a menos de 100 metros da orla da Lagoa da Pampulha, e contratou uma empresa particular para asfaltar o trecho em frente à sua empresa de jardinagem. “Isso foi há quatro anos. Desembolsei R$ 9 mil. O poder público não terminou o serviço. E olha que eu pago, por ano, mais ou menos R$ 1,8 mil de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano)”, esbravejou.

A queixa dele se repete em outras regiões de Belo Horizonte, a primeira capital planejada do país. Em toda a cidade, que completou 118 anos em 12 de dezembro, há pelo menos 98 vias sem nenhuma espécie de pavimentação, segundo levantamento feito pela Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (Prodabel) a pedido do Estado de Minas. Mas esse número pode ser bem maior, pois o órgão admite desconhecer a situação de 884 logradouros dos 12 mil corredores da cidade.

“Há pelo menos um trecho para o qual não há informação na base (da Prodabel). Portanto, não é possível concluir se, de fato, não há pavimentação ao longo de todo o logradouro”, informou o órgão municipal por e-mail. No linguajar popular, vias sem pavimentação alguma são chamadas de ruas de terra. Quem mora, trabalha ou usa esses corredores acumula transtornos imensuráveis.

Na época de calor, nuvens de poeira invadem os imóveis, mancham as fachadas e prejudicam a saúde de pessoas e animais. Na temporada de chuva, a vilã é a lama. O barro interfere até na roupa de quem precisa percorrer as vias. Vestimentas brancas, por exemplo, são descartadas nessa época do ano.

Antônio, o empresário que custeou parte da obra que é de competência da prefeitura, não esconde a indignação. “Coloquei esse asfalto, mas a camada é fina. Já está se desfazendo. O município precisa asfaltar a via”, cobra o comerciante. Ele lembra que a Rua Major Messias Menezes, cuja placa que a identifica foi improvisada num pedaço de madeira, está a menos de um quilômetro do jardim zoológico, cartão-postal da cidade, e a menos de 100 metros da lagoa mais famosa de Belo Horizonte.

O empresário recorre à ironia para dizer que, enquanto o complexo arquitetônico da Pampulha concorre ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), próximo à mesma orla há problemas que a prefeitura parece desconhecer.

Longe de lá, no Bairro Vila Fazendinha, na Região Leste, moradores e comerciantes lutam há décadas pela pavimentação da Rua Adutora, cujo nome se deve a uma tubulação subterrânea da Copasa. Os primeiros moradores construíram suas residências no fim da década de 1980. “Sonhamos com o dia em que o asfalto chegará”, deseja Luciano Henrique de Andrade, de 32 anos. Ele mora na região há duas décadas e meia.

O rapaz faz questão de afirmar que, de lá para cá, a poeira acelerou os efeitos de algumas doenças. “Tenho asma, bronquite, sinusite e rinite. É difícil suportar tudo isso com as nuvens de poeira. Tenho de limpar a casa todos os dias”, reclama Antônio, enquanto acomoda o filho David, de 6 meses, no colo. O receio dele é que o bebê contraia alguma doença por causa do pó de terra levantado diariamente pelos caminhões, carros e motos que percorrem o corredor.

Amiga dele, Aline Pereira, de 23, tem uma mercearia na mesma rua. Os veículos que passam em frente ao estabelecimento jogam poeira no interior do imóvel. Ela evita usar roupas brancas quando está no próprio comércio. “Suja toda. Já na época de chuva, carros atolam na via. Para se ter ideia, eu saio de casa com botas”, diz a pequena empreendedora.

A Adutora, porém, venceu a última edição (2013/2014) do Orçamento Participativo (OP), programa da prefeitura em que os moradores votam em obras que serão financiadas pelo poder público. O início da pavimentação depende da remoção de famílias que invadiram parte do corredor.

“Das 34 famílias que serão removidas em função das obras, nove aderiram às unidades habitacionais e outras 12 estão em processo de negociação”, explicou a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), mas sem informar a previsão do início da obra.

Já em relação à Major Messias Menezes, a rua em que o empresário Antônio desembolsou R$ 9 mil, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que “não consta, neste momento, nenhuma obra prevista”.

Lixo e esgoto a céu aberto

A poeira e a lama não são os únicos problemas de muitos corredores de terra em Belo Horizonte. Lixo, esgoto a céu aberto e outras mazelas mostram que o poder público parece não ter piedade dos moradores. Mas a população também tem grande culpa.

Na Rua Adutora, na Vila Fazendinha, o caminhão da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) passa mais de uma vez por semana no local, mas um bota-fora insiste em permanecer no início da via. Chama a atenção até um amontoado de ferro-velho que um dia já foi carro.

Próximo a ele, um filete de esgoto a céu aberto incomoda os pedestres, que precisam saltar a água suja. Passeio lá não há. As pessoas andam nas beiradas da via, atentas aos buracos e ao lixo.

Quem percorre o logradouro em direção ao Santa Efigênia sai na Rua Cruzeiro do Sul, também de chão batido. Os moradores do lugar também sofrem com a poeira, a lama, o lixo e os buracos.

O mesmo ocorre na Rua Major Messias Menezes, no Bandeirante 2, na Pampulha, onde um pequeno bota-fora ocupa o meio da via. O lixo traz risco à saúde, pois, na época de chuva, pode se tornar berçário para o Aedes aegypti, transmissor da dengue, do zika vírus e da febre chikungunya.

Os logradouros de BH

» Total de vias: 12.000
» 9.538 têm ao menos um trecho asfaltado
» 11.018 têm pelo menos um trecho pavimentado
» 98 sem nenhum tipo de pavimentação
» 884 sem informações adequadas

Fonte: Prodabel



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