No quiproquó da Escola Lourenço Porto, Sucupira demonstra ser melhor gestor do que Pimentel

No quiproquó da Escola Lourenço Porto, Sucupira demonstra ser melhor gestor do que Pimentel

— Por David Ribeiro Jr.

Na faculdade de Jornalismo, e na vida, aprendemos que “contra fatos não há argumentos”. E um fato que ficou colocado de forma clara e inequívoca nestes últimos dias em Teófilo Otoni é que o governador Fernando Pimentel tem muito o que aprender sobre construção e gestão de “imagem pública”. Com todo respeito que tenho ao governador, não se pode negar que o homem tem dado umas escorregadas feias neste quesito.

Não pretendo polemizar neste texto e dizer que Fernando Pimentel é um governador ruim. Não serei eu a dizer ou a escrever tal coisa. Só estou dizendo que o seu governo é ruim — o governo, e não ele… mas isso não quer dizer que a culpa seja do governador. A responsabilidade, sim. Quanto à culpa?… aí cabe interpretações… e as mais diferentes possíveis.

Bem… o título deste editorial faz referência ao quiproquó da Escola Estadual Lourenço Porto, aquela escola, localizada na Vila São João, em Teófilo Otoni, que o Governo do Estado resolveu fechar porque não tinha alunos o suficiente para justificar mantê-la aberta (leia mais aqui e aqui). Curiosamente, assim que foi anunciada a sua municipalização, o prefeito Daniel Sucupira concedeu entrevistas à imprensa afirmando que irá dobrar o número de alunos na escola.

Como perguntar não ofende: Se não havia alunos antes, como fazer para dobrar o número de alunos agora? É impressão minha ou em algum lugar esta conta não está fechando?

Na verdade, a conta fecha, sim. E vou explicar como e porquê. O que ocorre é que a Escola Estadual Lourenço Porto era (ou melhor, ainda é) uma escola de tempo integral. Foi um desafio quase que pessoal da superintendente regional de Ensino Maria Helena Costa Salim, que sonhava com uma escola assim em Teófilo Otoni há muitos anos. Ela não sossegou enquanto não conseguiu alcançar o seu objetivo. Foi quase um sonho realizado.

O problema é que esse tipo de escola é uma vitrine perigosa. Que é algo bom, é, claro! Mais do que isso: é ótimo! Mas também implica em gastos dobrados para mantê-la funcionando. E aí, se a moda pega, ainda mais num ano que antecede as eleições estaduais, o Governo fica mal com os outros lugares e comunidades escolares que reivindicam a mesma coisa, uma escola de tempo integral. Sendo assim, é compreensível — se bem que não justificável — que o Governo do Estado, do governador Pimentel, desestimule e desincentive o funcionamento de toda e qualquer escola de tempo integral que estiver sob a gestão do Estado. Foi exatamente o que aconteceu à Escola Lourenço Porto.

Uma nota à margem: A superintendente regional de Ensino, Maria Helena Costa Salim, fez — e toda a imprensa local sabe disso — tudo o que estava ao seu alcance para salvar a escola. Aquele foi um projeto seu, uma ideia sua, uma realização sua… é claro que ela não iria cruzar os braços e deixar a escola simplesmente acabar. Foi por isso que procurou a ajuda do colega prefeito Daniel Sucupira para municipalizar o Lourenço Porto. E Daniel aceitou o desafio. Ponto para Maria Helena. Espero, sinceramente, que a história seja justa com ela!

Mas e quanto ao Governo do Estado?

Não há muito o que dizer. O Governo do Estado, o mesmo governo que não efetuou os repasses do “Poupança Jovem” para os alunos cadastrados nos últimos anos do programa (e que contavam com o benefício) e que desativou o Poupança Jovem sem dar maiores explicações… o mesmo governo que atrasa sistematicamente o repasse para o transporte escolar… demonstrou mais uma vez o compromisso que tem com a Educação.

Algum desavisado — ou apaixonado — pode até me lembrar que o Governo tem sofrido com o caixa esvaziado. Verdade. Sofre mesmo. Mas eu não vejo o Governo reclamar de caixa esvaziado para atender aos anseios e demandas dos profissionais da segurança pública. A justificativa para isso é que a segurança pública não pode ser largada à própria sorte. Mas pergunto: a Educação pode?

A verdade é que a segurança pública em Minas Gerais é extremamente articulada por líderes que são, em sua grande maioria, contrários, ou, pelo menos, não simpatizantes, ao Governo de Pimentel. E ele, o governador, ao atender aos anseios desses líderes tenta evitar que eles articulem mobilizações que vão pegar mal para o governador. Já as lideranças dos sindicatos voltados à Educação são, em sua grande maioria, simpáticos ao governo e à Pimentel. Basta verificar o tipo e o nível das mobilizações havidas nestes últimos três anos, apesar de tantos problemas na Educação, e comparar com o que havia nos governos anteriores.

Encaminhando-me para o fim deste texto, permita-me falar agora da ação do prefeito Daniel Sucupira ao aceitar o desafio de municipalizar a Escola Lourenço Porto…

Daniel fez o que tinha que fazer. Simples assim! Se ele deixasse a escola fechar, a cobrança que seria gerada ao governo do Estado, que é do PT, invariavelmente acabaria refletindo em sua Administração, uma vez que ele também é do PT. A diferença entre Daniel e Pimentel é que Daniel, ao que tudo indica, tem ambições políticas (e ambição não é pecado) e pretende manter uma carreira política que se perpetue. A impressão que se tem é que Pimentel já está se rendendo e apenas esperando o último ato da peça para fechar as cortinas e apagar a luz do teatro.

O Governo do Estado acreditou mesmo que conseguiria simplesmente fechar a Escola Lourenço Porto e tudo ficaria por isso mesmo. Acreditou que, por ter um mínimo de controle das lideranças do meio da Educação, minimizaria as consequências de tal ação.

Sucupira, por sua vez, mais antenado e grande conhecedor da força das redes sociais, sabe que, se a escola fosse fechada, haveria uma avalanche de postagens criticando o Governo do Estado e o seu partido, e que isso respingaria, ou desaguaria, nele, em Sucupira. Assim, agiu e tentou impedir tal desgaste antes que ele ocorresse — pois certamente ocorreria.

Por mais que muitos estejam criticando o ônus da municipalização da escola, o prefeito quis evitar uma enxurrada ainda maior de críticas que viriam com a escola fechada. Como eu disse, Daniel se mostrou um gestor da sua imagem pública e do momento de crise. Pimentel tem muito o que aprender com ele.

Será que vai aprender? Eu não sei. Mas, como sempre digo, quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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