Caso Aécio Neves: PSDB de MG precisa aprender com os erros do passado para ser mais eficiente agora

Caso Aécio Neves: PSDB de MG precisa aprender com os erros do passado para ser mais eficiente agora

— Por David Ribeiro Jr. —

Às 06h54min de hoje (27/07) o portal da Revista Exame na internet publicou uma nota com o seguinte título: “PSDB define o que fazer com Aécio Neves”. A legenda da foto que ilustra a matéria é exatamente a que segue na linha abaixo, em vermelho:

Aécio Neves: o melhor para o PSDB seria que ele não disputasse cargo público em outubro.

Se quiser verificar a matéria por si mesmo, clique aqui.

Existe algo de errado com essa matéria, ou com essa legenda? Não. Errado, não. O que ocorre é que há um jogo de palavras com um propósito muito claro. Ao começar a legenda com o nome de Aécio seguido de dois pontos, o autor do artigo, que sequer assina o texto (a postagem aparece como matéria editorial da revista, e pronto), induz o leitor a pensar que o que segue depois dos dois pontos é uma afirmação do nome que vai antes, ou seja, do próprio Aécio.

OK! Basta ler o texto da legenda para ver que não é o caso, até porque ele não está entre aspas. Mas como a grande maioria dos brasileiros não sabe ler (no sentido de interpretar o que lê), cria-se o efeito psicológico de que é Aécio quem está dizendo que o melhor para o partido é que ele não dispute cargo público. E quem lê o resto da matéria percebe de forma muito clara que, de fato, o objetivo do texto é pintar Aécio com as cores de um problema, de uma persona non grata, etc.

“David, você agora vai defender Aécio?”, alguém pode perguntar.

E eu respondo: Não! Eu não tenho procuração para defender o senhor Aécio Neves. Não tenho nenhuma relação com ele, nunca conversei com ele senão como profissional de comunicação entrevistando um homem público… enfim! O que estou fazendo aqui é demonstrar algo que já defendo há bastante tempo. Quem me acompanha desse o início da minha carreira no distante ano de 1993 sabe o que penso do PSDB enquanto partido: é simplesmente a legenda mais desarticulada do país. E escrevo isso desde 1994 quando Fernando Henrique Cardoso ainda concorria pela primeira vez para presidente do Brasil.

Sendo um pouco metafórico, o PSDB é como a Seleção Brasileira de Futebol. Tem os maiores talentos individuais. Seu elenco é muito acima da média de qualidade dos seus principais concorrentes. Mas não sabe jogar como um time. Isso vale tanto para a Seleção Brasileira quanto para o PSDB.

Eventualmente, ambos podem até vencer algumas partidas: a Seleção Brasileira de Futebol ganhou as copas do mundo de 1994 e 2002, foi medalha de ouro nas Olimpíadas de 2016… O PSDB também elegeu duas vezes o presidente da República, quatro vezes o governador de Minas, seis vezes o governador de São Paulo… mas isso não quer dizer que saiba jogar como um time. E a maior prova do meu raciocínio é exatamente o caso Aécio Neves.

Em 2013, com o início das megamanifestações contra a classe política, em tese a maior prejudicada seria a então presidente Dilma Rousseff (PT) que, de fato, viu sua popularidade ser minada aos poucos. Aécio Neves seria o candidato da oposição (leia-se do PSDB) à Presidência. Tinha tudo para se firmar como o maior nome da oposição naquele momento, mas aí o ex-governador paulista José Serra, que havia sido recentemente derrotado para a Prefeitura de São Paulo, resolveu entrar na disputa, mesmo também tendo sido derrotado em 2010 para a mesma Dilma Rousseff. O resultado: a candidatura de Aécio Neves demorou a ser oficializada e, por mais que tenha conseguido ir para o segundo turno, foi derrotado por Dilma. A história poderia ter sido diferente se o partido tivesse investido na liderança de Aécio desde o primeiro momento do desgaste da imagem de Dilma.

Em 2017 foi novamente com Aécio Neves que o PSDB demonstrou o quanto não sabe jogar como uma equipe. O empresário Joesley Batista fez um acordo com o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para entregar a cabeça de Aécio Neves numa bandeja. A bocas miúdas comenta-se que Janot encomendou a cabeça de Aécio porque queria demonstrar que ele não era apenas contra os petistas (os maiores protagonistas até então da Operação Lava Jato), e também queria destituir Aécio da posição de grande líder político de Minas, onde Janot pensava (segundo os boatos) em concorrer ao governo estadual.

Armado o circo do Joesley e do Janot contra Aécio, o PSDB quase que em peso se uniu para pedir o afastamento de Aécio da Presidência da legenda. A justificativa do partido era não querer demonstrar que se compactuava com quaisquer atos de corrupção (mesmo não havendo uma única prova contra Aécio).

Na mesma época a também senadora Gleisi Hoffmann estava atolada como réu de processos na Operação Lava-Jato. Aécio havia sido apenas citado. Não era réu de nada. O PT elegeu Gleisi para a Presidência do partido. O PSDB removeu Aécio da sua Presidência.

Alguém pode dizer que os valores morais dos dois partidos são diferentes. Mas, seja como for, desde então tem havido uma verdadeira caça às bruxas contra Aécio Neves tentando demonizá-lo e tentando fazer com que não concorra a nenhum cargo nas eleições deste ano. E o que é pior: grande parte dessa ofensiva contra Aécio Neves é o que os estrategistas chamam de fogo amigo. Ou seja: ataques de pessoas que, em tese, deveriam defendê-lo.

Qualquer pessoa com mais de dois neurônios consegue muito bem entender o que está acontecendo: São Paulo é o maior centro financeiro do país. É onde estão os maiores anunciantes da grande mídia. E o governo de São Paulo, comandando pelo PSDB de São Paulo há quase vinte e cinco anos, quer se firmar na grande mídia e minar todo e qualquer nome que queira concorrer com os seus caciques, mesmo que sejam nomes do próprio partido em outros estados.

Entendeu? Ou eu vou ter que desenhar?

Será que é por isso que a Revista Exame, do Grupo Abril, que detém o comando da Revista Veja, aquela mesma que já tentou detonar Aécio tantas outras vezes, publicou a nota a qual me referi no início deste editorial?

O maior cego é aquele que não quer ver.

Eu, David Ribeiro Jr., penso que o PSDB de Minas deveria aprender com os erros do passado para se tornar mais proativo e mais eficiente nas eleições deste ano. Que o senador Anastasia tem tudo para ganhar as eleições de 2018… Tem. Não que eu esteja afirmando isso aqui. Só estou reverberando o que demonstram as pesquisas mais recentes.

Mas não basta vencer. É preciso se afirmar e se firmar para poder governar depois… e governar bem. A governabilidade depende impreterivelmente da lealdade das pessoas que compõem esse governo ou que compõem a base que possibilitará que o hoje candidato se torne governante amanhã.

Na minha modesta opinião, o PSDB de Minas continua cometendo alguns erros que podem lhe custar caro mais tarde. Há um mês, quando o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Dinis Pinheiro, foi confirmado para a primeira vaga de candidato ao Senado na chapa de Anastasia, o presidente estadual do PSDB, deputado federal Domingos Sávio, saiu-se com essa desastrada declaração ao se referir a Aécio: “Ele não está de fora do processo; não se participa só sendo candidato. Você tendo a clareza de que alguém representa melhor o grupo naquele momento — e ele não escondeu de ninguém que quem melhor representaria esse sentimento de mudança é o Anastasia — isso foi gesto importante do Aécio em favor de Minas”.

Domingos Sávio só faltou dizer que Aécio demonstra grandeza se mantendo afastado da disputa — que é o mesmo que querem os adversários do PSDB, e em especial do PSDB de Minas.

Se Aécio fosse esse homem-bomba que alguns querem fazer parecer, como explicar que o seu nome esteja na liderança de todas as pesquisas para o Senado?

Ainda bem que na mesma ocasião o presidente do PTB de Minas, deputado estadual Dilzon Melo, demonstrou ser mais coerente do que a turma do PSDB e comentou o seguinte: “Eu disse e repito que o Aécio tem condições plenas de se candidatar ao que quiser. Nem sei se ele tem essa intenção, mas qualidade e capacidade, tem de sobra”. E tem mesmo.

Na convenção de amanhã (28/07) o PSDB de Minas tem a chance de se firmar como um grupo coeso que lidera uma aliança forte ou como marionete dos irmãos paulistas que querem Aécio derrotado. Como disse o deputado Dilzon Melo, do PTB, Aécio pode ser o que ele quiser. Se optar pela reeleição ao Senado, cabe ao PSDB apoiá-lo. Se preferir se candidatar à Câmara Federal, onde poderá ter mais protagonismo, como defendem alguns, o PSDB deve apoiá-lo também.

Eu, inclusive, penso que ele será muito mais útil ao País e ao futuro presidente como um bom articulista na Câmara, fazendo aprovar as reformas necessárias, do que no Senado. Mas não acredito que ele deva ser candidato a deputado como uma espécie de prêmio de consolação. Isso, não! Nunca!

O PSDB não pode em hipótese alguma contribuir para enfraquecer os seus próprios membros, pois, como aprendemos na vida: toda corrente é tão forte quanto o seu elo mais fraco.

Quer ser forte? Então fortifique todos os elos da sua corrente.

A prova dos nove será amanhã. E, como eu sempre digo: Quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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