A um ano das eleições 2018, nossos candidatos a deputados tiram zero em comunicação com o povo

A um ano das eleições 2018, nossos candidatos a deputados tiram zero em comunicação com o povo

Falta aos nossos candidatos e pré-candidatos a capacidade de se fazerem ouvir por parte do grande público (imagem: Pixabay)

Por David Ribeiro Jr.
TEÓFILO OTONI

Aí vamos nós para um tema… como dizer?… bastante espinhoso, mas que, entendo eu, não pode ser ignorado pela nossa imprensa. Refiro-me ao fato de que estamos exatamente a um ano do início do próximo período eleitoral, quando, entre outros cargos, elegeremos os nossos próximos deputados para o Parlamento Mineiro e para a Câmara Federal, em Brasília.

Até aí, nada novo. Todo mundo já sabe disso. Todo mundo está bastante consciente da proximidade das eleições — até pelo excessivo número de pré-candidatos que já começaram a se enfileirar apresentando-se ao eleitor (leia mais aqui, aqui e aqui). E é exatamente neste ponto que está o foco deste editorial: na dificuldade que esses mesmos candidatos, ou pré-candidatos, têm para se comunicar com o eleitor.

Há alguns anos o vereador Northon Neiva disse, numa entrevista concedida a mim, que o meio público precisa abandonar de uma vez por todas a comunicação analógica para abraçar a comunicação digital, que é a nova realidade do Século XXI. Quem parece não ter entendido isso até agora são os nossos candidatos a deputados, tanto os que se apresentam para o cargo de estadual quanto para federal. Isso vale para a maioria absoluta deles, os que já ocupam os cargos e aqueles que querem o seu lugar ao sol (ou à sombra, dependendo da sua interpretação neste caso).

Há poucos dias, quando escrevi um editorial comentando quem são os nossos pré-candidatos a deputado federal (leia aqui), deixei claro que esse número excessivo de pré-candidatos é o resultado incontestável de os nossos atuais detentores do mandato simplesmente não saberem se comunicar com as suas bases. Muita gente me mandou mensagens criticando aquele trecho do texto, como se não fosse uma realidade inquestionável. Acontece que é uma verdade, sim. É um fato. E, insisto, contra fatos não há argumentos.

Para efeito de demonstração de um caso concreto, peguemos o exemplo do deputado federal Ademir Camilo. Nas ruas de Teófilo Otoni o povo sequer sabe dizer se Ademir ainda é deputado ou se, atualmente, é apenas suplente. Ele simplesmente sumiu; ninguém sabe por onde o homem anda, o que tem feito… enfim!

Antes daquele editorial, eu mesmo tentei ligar no gabinete de Ademir para falar com ele; enviei mensagens para o seu número de whatsapp… mas não consegui que me atendesse sequer para confirmar, fique abismado(a) agora, qual era o seu partido. Isso mesmo que você leu. No site pessoal do deputado aparece, no teto da página, que ele é filiado ao “Podemos”, um partido novo, recém-fundado. Porém, no mesmo site aparece que ele é do PROS em um outro banner em destaque. Afinal, o deputado federal Ademir Camilo é filiado ao “Podemos” ou ao PROS?… Depois, acabei descobrindo que ele agora é, de fato, do “Podemos”, mas tive que me virar sozinho para obter uma informação assim tão simples. E, pense comigo: se é tão complicado obter uma informação tão básica, imagina a dificuldade de se esclarecer algo mais complexo. Por exemplo: “Ademir apoiou a eleição do governador Fernando Pimentel. Mas e hoje? Ele é situação ou oposição ao governador?” Outra: Ademir é situação ou oposição ao presidente Michel Temer? Mais uma: É a favor ou contra as reformas que estão tramitando na Câmara?

Eu até entendo que algumas pessoas próximas a ele, a Ademir, insistam que o deputado não precisa mais dos votos de Teófilo Otoni para se reeleger. E talvez não precise mesmo. Mas, convenhamos, não pega bem ser mal votado em sua própria cidade de origem.

Outro caso que, para ser justo, preciso lembrar, é o do também deputado federal Fábio Ramalho, o Fabinho Liderança (PMDB). Fabinho é o atual vice-presidente da Câmara dos Deputados e vice-presidente do Congresso Nacional, e mesmo tendo uma enorme estrutura à sua disposição, tem tido muita dificuldade para se comunicar com o público. E, pior: tem tido dificuldades para controlar a narrativa a seu respeito, que é algo imprescindível para alguém que está à frente de um mandato público. Depois escreverei um artigo sobre controle de narrativa. Pode me cobrar.

Detalhe: antes que alguém me interprete mal, Fabinho tem uma atuação muito boa, sim, gostando você dele, ou não. Um exemplo é a sua constante atuação em defesa da nossa saúde regional. Insisto que, gostando ou não de Fabinho, é preciso admitir que ele tem pelo menos o que mostrar para justificar o seu mandato. A maioria, nem isso tem. Se o que ele, Fabinho, tem para mostrar é o suficiente, aí é uma outra conversa, mas ele tem, sim, o que mostrar. É uma pena que não esteja sabendo como “mostrar”. E, como exemplo do que estou dizendo, cito a sua recente visita à Prefeitura de Teófilo Otoni (leia aqui), quando veio à cidade, naquele momento na condição de presidente em exercício da Câmara dos Deputados, ninguém deu bola para a visita… quero dizer que não houve a devida repercussão que seria esperada da visita de um presidente em exercício da Câmara dos Deputados.

Alguém pode até dizer que “não há profeta sem honra senão em sua própria terra”, mas seria uma delinquência intelectual apelar para este argumento. O que faltou foi articulação mesmo. Houve uma ou outra reportagem avulsa aqui e ali, mas não houve, de novo, controle da narrativa. O que ficou da visita de Fabinho para o grande público foi um vídeo publicado nas redes sociais criticando a sua passagem pela Praça Tiradentes. O vídeo, sim, viralizou, omitindo a importância de todos os recursos que o deputado veio anunciar durante a visita. Como eu disse, faltou controle da narrativa. E, para piorar, nem mesmo a Prefeitura de Teófilo Otoni publicitou a visita em seus canais de comunicação. Tudo bem que o prefeito Daniel Sucupira apoie o deputado Leonardo Monteiro (PT), mas, bom ou ruim, Fabinho nos visitou como presidente em exercício da Câmara dos Deputados.

No caso de Fabinho, até entendo que a contratação de Rodrigo Pechir para ser interlocutor do deputado na região vá melhorar isso, essa dificuldade de comunicação, pelo menos um pouco. Rodrigo é de uma tradicional família de comunicadores e tem, ele mesmo, muita competência para executar com eficiência a atribuição que lhe está sendo dada neste momento. Torço por ele. A questão é outra: será que Rodrigo terá o devido respaldo para cumprir de forma eficiente esta missão? Isso, só o tempo responderá.

Por sua vez, Neilando Pimenta, que é deputado estadual, tem uma assessoria de comunicação que é até bastante eficiente e competente. Encaminha releases frequentemente, mantém contato com a imprensa, e sempre se mostra muito pronta para atender a imprensa e quem mais precisar interagir com o gabinete. Dos atuais detentores de mandato parlamentar, é quem está em melhor situação. A dificuldade, todos reclamam, é de falar com ele, com o próprio Neilando. E muitos reclamam, também, da sua ausência e da distância física nas bases.

Eu, sinceramente, até entendo a situação de Neilando. Por causa da sua proximidade com a Universidade UNIPAC, quase todo mundo que chega perto dele quer pedir alguma coisa (na maioria das vezes uma bolsa ou, pelo menos, um considerável desconto na mensalidade da faculdade). E é claro que é simplesmente impossível atender a toda essa demanda.

Contudo, é possível, sim, ser deputado e manter uma boa comunicação institucional com o público da sua base, principalmente em tempos de redes sociais. É claro que, para isso, é preciso aprender o pulo do gato, a capacidade de controlar a narrativa, ou de pautar a narrativa. E isso, como me ensinou o meu amigo Adilson Afonso, da empresa Assessor Comunicação e Marketing, é uma característica que só os grandes profissionais têm. É uma questão de feeling associada a um planejamento extremamente estratégico e, evidentemente, executado de forma correta.

Como este texto está se alongando muito, vou me omitir de falar sobre os nomes que não exercem mandato e que estão se apresentando como pré-candidatos para as eleições do ano que vem. A grande maioria desses nomes também tem tirado zero em matéria de comunicação de massa e autopromoção. Uma exceção, eu diria, é o caso do escritor Roberto Marcos (PSOL), que vai disputar uma vaga na Assembleia no ano que vem. O homem é um comunicador dos melhores, afinal, esta é a sua profissão, e, portanto, sabe muito bem como interagir e falar a língua do grande público. Outra exceção que tenho visto é o caso do ex-secretário executivo da ZPE, Arlindo Matias, pré-candidato a deputado federal. Ele tem se saído muito bem nas redes sociais. A maioria dos outros nomes, com todo o respeito, têm muito o que aprender.

O estilo Daniel Sucupira

Quem tem muito a ensinar em matéria de comunicação interpessoal no meio político pe o prefeito Daniel Sucupira. Desde que assumiu o seu mandato, Sucupira tem sido muito criticado por alguns políticos mais tradicionais que tentam associá-lo à alcunha de “menino”, de “inexperiente” e até de “prefeito das redes sociais”, como se isso fosse um defeito. Acredite, não é.

Você que me agora tem todo o direito de não gostar do estilo de Daniel, se for este o caso, mas não pode negar que esse estilo dá resultados — não é à toa que ele foi eleito prefeito. Há quem defenda de unhas e dentes que se a eleição fosse hoje, Daniel teria pelo menos dez mil votos a menos. Eu duvido. E até ouso dizer que se houvesse uma nova eleição hoje, não seria nenhuma surpresa ele ter dez mil votos a mais. E sabe por quê? Simples. Porque ele consegue falar com as pessoas. Ele consegue interagir e se fazer notar. Veja, abaixo, essa foto, de um flagrante do festival de quadrilhas no último final de semana, na Praça Tiradentes.

Daniel Sucupira tira uma selfie tendo ao fundo o público presente ao Festival Regional de Quadrilhas, em Teófilo Otoni (Divulgação)

Precisa falar mais alguma coisa? Não, né?!

A expressão das pessoas lá atrás, querendo sair na foto, diz tudo.

Mas antes que alguém me julgue tendencioso, já que Daniel hoje é o prefeito da cidade, quero lembrar de outra pessoa que também sempre demonstrou essa capacidade de se comunicar. Refiro-me ao ex-prefeito Getúlio Neiva. Até já escrevi um editorial sobre esse seu diferencial (leia aqui). Getúlio não tinha medo de se misturar, de cantar para as pessoas, de puxar para si a responsabilidade pela solução de problemas… enfim! Getúlio sabia ser popular.

Daniel, ao seu modo, embora represente um pensamento distinto quanto à forma de se fazer política em comparação a Getúlio, tem seguido, de certa maneira, o mesmo modelo de comunicação, embora devidamente adaptado para a realidade do Século XXI. É por isso que Daniel tem sido bem-sucedido para interagir com as pessoas.

Se os nossos deputados e pré-candidatos a deputados — seja a federal ou estadual — não aprenderem que é preciso abandonar a comunicação analógica para abraçar a realidade da comunicação digital, das duas, uma: ou teremos uma das campanhas mais caras de todos os tempos, já que muita gente só vai votar nesses caras em troca de algum benefício pessoal direto… e eu sei que você tem pelo menos uma vaga ideia do que estou dizendo; ou teremos a maior votação de todos os tempos em candidatos de setores e segmentos sociais, ou seja, do segmento X, da Igreja tal, da Polícia, da entidade Y… enfim, candidatos que representem segmentos específicos. Mas este é assunto para um outro texto.

Em outubro do ano passado escrevi um editorial onde explicava que “a eleição de Daniel Sucupira foi, antes de tudo, a vitória da capacidade de se comunicar com o eleitor”. Agora, com um ano de antecedência, estou afirmando que a derrota de muitos dos nomes que estão listados como pré-candidatos a deputado federal ou estadual em nossa cidade se dará pela incapacidade que esses caras têm para se comunicaram com o público.

Quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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