Um décimo do governo Marinho já foi. Algo mudou de fato? Ou tudo continua igual?

Um décimo do governo Marinho já foi. Algo mudou de fato? Ou tudo continua igual?

Em 1º de janeiro o Coronel Marinho fez o juramento como prefeito de Teófilo Otoni para um mandato de 1461 dias. Um décimo do mandato já foi (foto: Divulgação)

Por David Ribeiro Jr.
Teófilo Otoni

Nas primeiras horas do último sábado (24/05) a Administração Marinho e Vanilson completou um décimo dos 1461 dias previstos para durar o Governo. Um décimo…

Pode parecer pouco, algo banal até, mas é um marco temporal importante. Via de regra, esses primeiros 146 dias dão o tom do que será o governo; não apenas desse, mas de qualquer outro também.

E, não. Não estou dizendo que todo o restante do governo será como foram esses primeiros cinco meses. Sou bem grandinho pra saber que no primeiro ano o prefeito se vê preso — quase obrigado — a seguir o orçamento deixado pelo seu antecessor. Isso engessa um bocado de coisas, atrapalha um monte de outras mais, e fornece uma boa desculpa para que o governo que está começando possa botar a culpa por todos os problemas do mundo, ou melhor: da cidade, na Administração anterior e no orçamento recebido. A isso soma-se a falta de dinheiro em caixa… e você já conhece o roteiro das falas. Todo início de administração é a mesma coisa; é o mesmo filme repetido.

Bem… se eu reconheço que o primeiro ano é sempre muito difícil para qualquer novo prefeito, por que estou escrevendo este editorial? Será que eu quero apenas um texto meia-boca com um bom clickbait?

Não. Definitivamente, não! Já passei dessa fase. Hoje, o que quero é chamar sua atenção para um problema muito grande que nossa cidade terá de enfrentar imediatamente: o endividamento recorde e a incapacidade de gerar renda, de alavancar negócios que gerem empregos e que oportunizem a arrecadação de impostos. Sem isso, pode esquecer. É daqui pra ladeira abaixo.

Está mais do que na hora de a gente parar de pôr panos quentes e tapar o sol com a peneira. Precisamos parar de fingir e dar nome aos bois. Nós temos um problema e precisamos enfrentá-lo de frente. O nosso problema é “falta de dinheiro”. A nossa cidade é pobre. Aqui não circula grana; o resultado disso é uma excessiva dependência financeira tanto por parte de pessoas quanto de entidades e setores do capilé do poder público. A Prefeitura é uma loba cujas tetas não dá conta de atender a tantos lobinhos.

E pior: Fomos abandonados, sim, tanto por parte do governo estadual quanto federal. Esses caras só nos remetem o que são obrigados, e agem como se fosse uma esmola pela qual querem aplausos.

O Governo Estadual há muito tempo não faz investimento real em nossa cidade e região.

E não. Não me venha com esse papo furado de que o Governo de Minas está investindo em Teófilo Otoni através do Hospital Regional. Balela! O hospital só está sendo terminado em função do recurso que entrou do acordo da VALE. Foi necessária uma tragédia para que se separasse um pouco do dinheiro resultante da punição para dar uma esmolinha aos teófilo-otonenses.

E antes que alguém venha com aquela conversinha mole de que Zema recebeu um estado endividado das mãos do ex-governador Pimentel, quero lembrar que quando Zema se apresentou como candidato a situação do Governo de Minas já era mais do que conhecida por todo mundo. Sim, é bem provável que Pimentel tenha sido o pior governador de todos os tempos, mas Zema não foi pego de surpreso. Ele sabia exatamente em que barco estava se metendo. Basta recuperar suas propostas de governo e seus programas eleitorais para vê-lo criticando exatamente a situação que herdou do antecessor. Já que não houve surpresas, até quando Zema vai ficar com essa lengalenga de que a culpa é do governo anterior? Até quando Teófilo Otoni vai ficar abandonada pelo Governo do Estado?

E para não parecer que estou sendo parcial, não dá para poupar o Governo Federal também. Mesmo com os Vales do Mucuri e Jequitinhonha tendo sido no passado a quarta mais miserável região do planeta, o que o Governo Federal fez por nós? E quando evoco o governo federal, me refiro tanto ao atual governo (Lula) quanto ao anterior (Bolsonaro). São duas faces de uma mesma moeda. É muito discurso, blablabá, conversa mole de que está moralizando o país, combatendo isso e aquilo, consertando a máquina… Mas no final fica tudo igual. Nós aqui continuamos esquecidos.

Bem… foi nesta cidade, cuja realidade é de abandono total, que o prefeito Marinho, depois de uma carreira bem-sucedida como oficial da Polícia Militar, caiu de paraquedas. Que vespeiro!

O homem pegou uma cidade pobre, endividada, com um PIB baixo, uma cultura extremamente estatizante (com todo mundo querendo uma fatia do bolo sem estar produzindo nada de efetivo para a riqueza da comunidade).

E pior: Marinho ainda terá de gerir três outros grandes problemas que vão se estender por um loooongo tempo:

1º — O choque de realidade do próprio prefeito. Geralmente, o deslumbramento demora um pouco. Marinho não teve sequer direito ao seu. Já chegou tendo de enfrentar problemas. Teve de enfrentar a dura realidade de ver como o Poder Público no Brasil é uma bomba. Eu tenho certeza de que ele tinha a melhor das intenções, de que acreditava que quando chegasse lá… bastaria ser honesto e tudo se resolveria. Hoje já se deu conta de que as coisas não são tão simples assim. Ôôô!

2 — A desilusão do próprio grupo. Depois de quatro anos criando expectativa, os principais apoiadores de Marinho não viam a hora para pôr a mão na massa, em todos os sentidos. E aí, quando viram que o buraco é mais embaixo, ficaram muito perdidos. É um verdadeiro milagre que haja um grupo coeso apoiando o prefeito… e há. Mérito dele para gerir os egos inflamados e manter a equipe motivada, mesmo e apesar de… tudo!

3 — As viúvas do… vamos chamar de “movimento de Direita”. Mas você sabe a que me refiro. Depois de um tempão longe do poder, esse pessoal achou que ia chegar e mandar outra vez. Mas aí o lado coronel de Marinho teve de falar mais alto e pôr ordem no quartel, ou melhor: na Prefeitura. E, convenhamos, ele tem posto. De novo: Mérito dele. Se não se posicionasse, voltaria tudo ao que já foi… e a verdade é que a população já disse NÃO a esse modelo em outro momento.

Agora que já mostrei que nem tudo são flores, voltemos à pergunta que deu origem a esse editorial: Algo mudou de fato? Ou tudo continua igual?

Ironicamente, as duas perguntas têm uma mesma reposta: SIM.

Como assim? Mudou ou não?

Vamos começar pelo final: Infelizmente, tudo continua igual, sim; pelo menos na percepção do grande público. Infelizmente, para o cidadão que é usuário do SUS, que precisa da escola municipal para seus filhos, que é usuários dos serviços públicos em geral… a impressão que se tem é a de que nada mudou. Um dia tem médico num posto, no outro, falta; um dia tem remédio, no outro, falta. Na escola dos filhos, a impressão que se tem é a de que está tudo igual; a cobrança dos impostos está igual; até a coleta do lixo continua nos mesmos dias da semana, embora haja um esforço enorme da Administração para manter a cidade limpa. Isso é fato.

Mas apesar de, aparentemente, tudo continuar como dantes no país dos Abrantes, há algo que mudou, sim: A expectativa voltou aos mais atenciosos e que prestam atenção às entrelinhas do desenrolar da gestão ao longo desse um décimo do tempo do governo.

Não tenho procuração para falar em nome do Governo Marinho; não faço parte do governo; não recebo um único real (nem sequer centavo) desse governo, seja por vias diretas ou indiretas, mas eu tenho de admitir, como cidadão que sou, que há boa vontade por parte do prefeito. Ele, de fato, sabe o que quer. Acredite: Isso é muito importante em se tratando de gestão pública. Não é tudo, mas é, sim, muito importante.

Sejamos realistas: Houve, de fato, alguns desacertos nesses primeiros cinco meses; mas todo início de governo é assim mesmo: sempre piora antes de melhorar. E, convenhamos: piorar não piorou. Marinho tem feito um esforço enorme para manter girando a roda da Administração Pública. Não, simplesmente, por ser a sua administração, mas por ser a administração da cidade cujo povo o escolheu como gestor. Ele está correndo atrás de promover uma grande virada nesta cidade.

Tomara que consiga! Até porque hoje nós teófilo-otonenses estamos nas mãos dele. Se depender dos governos estadual e federal, estaremos perdidos. Agora, gostando ou não de Marinho, cabe ao cidadão de bem torcer e apoiá-lo. Quando preciso, criticar também; mas não atrapalhar.

E como eu costumava dizer, e pretendo poder dizer muito ainda:

Quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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