“O que acontece na Petrobras ocorre no Brasil inteiro”, diz Paulo Roberto Costa na CPI

“O que acontece na Petrobras ocorre no Brasil inteiro”, diz Paulo Roberto Costa na CPI

Paulo Roberto Costa é ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, cargo que ocupou entre 2004 e 2012. Foi preso em março por tentar ocultar provas que o incriminavam. Solto em maio, foi preso novamente em junho, e fez acordo de delação premiada, que possibilitaria uma redução de sua pena em caso de condenação. Atualmente cumpre pena em casa, no Rio
Paulo Roberto Costa é ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, cargo que ocupou entre 2004 e 2012. Foi preso em março por tentar ocultar provas que o incriminavam. Solto em maio, foi preso novamente em junho, e fez acordo de delação premiada, que possibilitaria uma redução de sua pena em caso de condenação. Atualmente cumpre pena em casa, no Rio

BRASÍLIA — O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou nesta terça-feira em sessão da CPI mista que confirma tudo o que disse no processo de delação premiada que firmou com a Justiça. Acusado de irregularidades na estatal, ele está colaborando com as investigações, com o objetivo de ter uma redução da pena. Ele disse estar arrependido e que decidiu participar da delação premiada por orientação da família. Isso teria lhe trazido “sossego à alma”. Paulo Roberto disse que todas as indicações para cargos de diretoria da empresa são políticas e que está arrependido de ter assumido o posto. Afirmou ainda que as irregularidades na Petrobras acontecem no Brasil inteiro, das rodovias às hidrelétricas.

A CPI fez uma acareação entre Paulo Roberto Costa e o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró para esclarecer as divergências em depoimentos anteriores feitos pelos executivos. Costa já disse à Polícia Federal (PF) que houve pagamento de propina para que a empresa adquirisse a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Cerveró nega irregularidades.

Em sua primeira fala, Paulo Roberto Costa disse que, assim como na primeira vez que foi à CPI mista, em 17 de setembro, permaneceria calado, justamente para não atrapalhar o processo de delação premiada. Segundo ele, todas as dúvidas já haviam sido esclarecidas ao Ministério Público, Polícia Federal e Justiça Federal. Mas ressaltou que faria alguns esclarecimentos. Neles, lembrou que assumiu o posto de diretor de Abastecimento 27 anos depois de ter entrado na empresa por concurso público. Nesse período, disse, ocupou postos importante por sua competência técnica, mas destacou que isso não seria suficiente para se tornar diretor.

— Nesses 27 anos, assumi cargos importantes. Em todos esses cargos que assumi, não precisei nunca de apoio político. Consegui esses cargos por competência técnica. Quando surgiu a oportunidade de obter uma diretoria, era sonho meu ser diretor e, quem sabe, a presidência. Mas desde os governo Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma, todos os diretores, se não tivessem apoio político, não chegavam a diretor. Infelizmente, aceitei uma indicação política para assumir a diretoria de Abastecimento. Estou extramente arrependido de fazer isso. Se pudesse, não teria feito isso. Quisera eu poder não ter feito isso. Isso tudo, para tornar minha alma mais pura, confortável, para mim e para minha família, fiz o acordo de delação. Passei seis meses na carceragem. O que acontece na Petrobras acontece no Brasil inteiro, nas rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hidrelétricas — disse Paulo Roberto.

Ele confirmou tudo o que disse no processo de delação premiada, mas não quis dar detalhes. Segundo eles, fatos e pessoas envolvidas nas irregularidades serão conhecidos no momento oportuno.

— Tudo que falei lá eu confirmo. Não tem nada lá que não confirmo. É um instrumento sério, que não pode ser usado de artificio, de mentira, que não pode ser na frente confirmado. Nos mais de 80 depoimento que eu fiz, foram mais de duas semanas de delação, o que está lá eu confirmo. Provas existiram e estão sendo colocadas. Falei de fatos, de pessoas. Na época oportuna, virão a conhecimento público — disse Paulo Roberto.

Ele afirmou ainda que a família está sofrendo e que foi, por orientação dos familiares, que está colaborando com as investigações.

— Quando resolvi falar a delação premiada, não foi orientação do advogado, de ninguém… foi da minha família. Quem colocou a situação com clareza foi minha esposa, minhas filhas, meus genros e netos. Falavam: “por que só você? E os outros? Você vai pagar sozinho”. Fiz a delação para dar um sossego à minha alma e conforto à minha família.

Cerveró, por sua vez, disse que não conhece o conteúdo da delação premiada de Paulo Roberto. Perguntado pelo deputado Enio Bacci (PDT-RS), autor do requerimento que levou à acareação, Cerveró negou ter recebido propina.

— Ratifico o que disse antes, que não recebi — disse Cerveró.

— Então, se o Paulo Roberto disse que o senhor recebeu, ele está mentindo? — pergunta Bacci.

— O senhor (Bacci) está fazendo uma ilação. Não conheço o depoimento do Paulo Roberto. Aí é o caminho do “se” — disse Cerveró.

Cerveró confirmou que sua defesa está sendo paga pela Petrobras, mas de forma indireta, por um seguro que cobre acões dos gestores da empresa.

— A minha defesa está sendo paga pelo seguro; é uma forma indireta. Modelo americano que cobre atos de gestão de diretores e conselheiros. Cobre toda atividade de defesa de gestão desses diretores.

Em seguida, Paulo Roberto Costa negou que tenha se valido do mesmo mecanismo.

— A defesa de Paulo Roberto Costa não pagou um centavo. A defesa de Paulo Roberto Costa quem paga, com muito sacrifício, é Paulo Roberto costa — disse Costa.

Cerveró afirmou que não conhecia esquema ilícito na Petrobrás como um todo. Perguntado que citasse nomes envolvidos no escândalo, Paulo Roberto disse que não declinou nomes no depoimento para Sérgio Moro, mas que confirmava tudo que disse ao juiz.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) disse que o Brasil “vai ter limpa sem igual”.

— Onde está o problema em afirmar o óbvio, que Aécio Neves perdeu a eleição para uma quadrilha? — disse Carlos Sampaio, acrescentando: — Quadrilha havia. Desvio, houve. Propina, inegável. Corrupção não tem coloração partidária. O senhor Paulo Roberto errou, merece críticas. Mas sua mudança de postura trouxe um ganho ao país. O Brasil vai ter uma limpa sem igual.

O deputado perguntou a Cerveró se não tinha corrupção na Petrobrás ou ele desconhecia.

— Desconhecia, logo, não tinha — respondeu Cerveró.

Os dois diretores já foram convocados a depor na CPI Mista. Na primeira vez em que esteve presente na comissão, em 17 de setembro, Costa se recusou a responder as perguntas. Na época, o acordo de delação premiada de Costa ainda não havia sido homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Assim, ele preferiu ficar calado para não se comprometer. Pelo acordo, Costa decidiu colaborar com a investigação, tendo em vista uma redução da pena.

Cerveró, por outro lado, declarou, em 10 de setembro, não ter havido desvio de dinheiro na compra da refinaria de Pasadena. Ele também garantiu desconhecer qualquer participação direta do também ex-diretor Paulo Roberto Costa nos acertos empresariais para a compra da refinaria nos Estados Unidos.

Costa está em prisão domiciliar no Rio de Janeiro depois de ter firmado o acordo de delação premiada. A presença dele na CPI foi autorizada pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo processo da operação Lava-Jato. Moro determinou que Costa fosse escoltado pela Polícia Federal até o Senado, devendo ser “evitada a utilização de algemas”.

(Fonte: MSN Notícias)



Deixe seu comentário

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.