Lição importante: Ninguém é líder de si mesmo (principalmente) na política

Lição importante: Ninguém é líder de si mesmo (principalmente) na política

Líder sem seguidor não é líder nem de si mesmo (foto: Pixabay)

— Por David Ribeiro Jr. —

O ex-deputado Kemil Kumaira costumava usar a seguinte frase como slogan: “Ninguém é líder por acaso!” A frase era mais do que verdadeira. Ainda hoje continua sendo. Ninguém precisa concordar que Kemil Kumaira, o homem que popularizou a frase em nossa cidade e região, fosse um líder. Mas ninguém consegue desmerecer a frase em si. E é engraçado — ou trágico, dependendo do ponto de vista — ver como hoje em dia se tornou simplesmente patético acompanhar um amontoado de boçais que querem cunhar em si mesmos a “liderança” como sua principal virtude ou característica.

É risível! Pra não dizer “medonho”.

Por quê? Simples. Porque ninguém é líder por acaso. E, como eu disse no título deste editorial, ninguém é líder de si mesmo. Nem mesmo de si mesmo; ou, do contrário, se daria alguns conselhos para não se expor tanto ao ridículo como ocorre hoje em dia em Teófilo Otoni, ainda mais no atual processo eleitoral. A coisa se tornou tão estúpida que algumas figuras até pagam a alguns puxa-sacos de plantão para abordá-las chamando-as de líder:

Oi, líder. Bom dia!

Oi, líder. Como está!

Oi, líder. Que bom te ver por aqui!

Oi, líder. Adorei aquela sua entrevista na rádio tal…

Parece que estou forçando a barra?… Acredite, não estou. É exatamente assim que ocorre. Mas há algo de bom em tudo isso. Ao invés de desmerecer a figura dos verdadeiros líderes — e sim, os verdadeiros líderes ainda existem… em pequena quantidade, mas existem — esse excesso de figuras medíocres que se autodenominam líderes apenas contribuem, com suas ações risíveis e desqualificadas, para que nós valorizemos ainda mais um(a) verdadeiro(a) líder quando ele(a) surge e se destaca. E, como eu disse, eles ainda existem, sim. E nem é preciso procurar com uma lupa. Os líderes têm a incrível capacidade de aparecerem — no sentido amplo e positivo da expressão — e de se destacarem, mesmo que “destacar” não seja a sua intenção.

Nos dias atuais, em que superabundam figuras igualmente exóticas e interessantes como coachs, personal isso, personal aquilo, mestre nisso e naquilo, doutor nisso e naquilo… ainda se destaca a figura do autoproclamado líder de si mesmo. Infelizmente!

Por que “líder de si mesmo”?

Bem… Para responder a esta pergunta precisamos nos lembrar, ou nos conscientizar, do que é um líder de verdade. É, basicamente, alguém que tem a capacidade de influenciar outras pessoas para segui-lo(a) em sua jornada ou em sua trajetória na busca pela transformação de suas ideias e ambições em projetos na vida real. Partindo desse princípio, nem todos os líderes são, necessariamente, pessoas boas ou influenciam aos outros positivamente. Fidel Castro, por exemplo, era um líder excepcional, bem acima da média por sinal, mas um monstro como pessoa. Che Guevara, que até hoje influencia pessoas mundo afora, mesmo que apenas em camisetas e gravuras com o seu rosto, idem.

E pra não dizer que estou pegando no pé da turma da esquerda, aí vai: Hitler, então… esse era um líder muito, mas muito mesmo, acima da média. E Mussolini também. E ambos eram igualmente monstros desalmados e sem coração.

Todos esses nomes foram capazes de influenciar pessoas para aquilo em que acreditavam. E milhares de milhares de pessoas os seguiram… em alguns casos, até à morte. Por outro lado, Karl Marx, cujas ideias influenciaram a maioria dos movimentos de esquerda no mundo todo, por mais que tenha sido um pensador brilhante (o que não quer dizer que tenhamos que concordar com tudo o que ele escreveu e defendeu) nunca foi um líder, pois, apesar da sua capacidade de influenciar o pensamento das pessoas, não conseguiu influenciar as pessoas a segui-lo enquanto líder. As pessoas seguem até hoje às suas ideias, mas ninguém o seguiu enquanto homem, enquanto pessoa. E tanto isso é verdade que, apesar de os partidos “comunistas” mundo afora transformarem os escritos de Marx numa espécie de bíblia, ele mesmo nunca foi comunista e até teceu duras críticas aos ditos movimentos comunistas. Para Marx, e seu fiel colaborador Engels, o comunismo deveria se resumir a uma luta de classe, onde os mais pobres lutariam por melhores condições de trabalho e reconhecimento do valor da sua mão de obra. É como se fosse uma ode ao sindicalismo. Marx criticou ferrenhamente o uso da denominação “comunismo” para se referir às tiranias que, embora tenham nascido no seio da classe trabalhadora, apenas trocaram uma forma de poder absoluta por outra, ou apenas os protagonistas do exercício do poder.

Mas voltemos à Teófilo Otoni. Estamos há pouco mais de oito meses das eleições que deverão definir quem será o próximo prefeito do Município, ou se o atual será reeleito, uma vez que, legalmente, tem esse direito. Ao final de setembro do ano passado eu escrevi um editorial onde relacionei os nomes até então apresentados publicamente como pré-candidatos naquele momento em que faltava um ano para a eleição (leia aqui). Eu enumerei pelo menos catorze nomes. E recebi, logo em seguida, alguns puxões de orelha de outros nomes que não foram incluídos ali. Uau! Mais de 14? Sim. Mais de 14. Observe que uma boa parte dos nomes são, de fato, pessoas que exercem liderança em seus segmentos empresariais ou sociais nos quais atuam. Mas trata-se de uma minoria.

Esse talvez seja um dos nossos grandes problemas políticos na atualidade. Todo mundo quer ser líder, mesmo que não esteja preparado para assumir a função de líder de coisa alguma. E, com isso em mente, a maioria absoluta das pessoas não está preparada para ser líder, pois nunca aceitou ser liderada antes para aprender aos pés de um verdadeiro líder.

E como saber se alguém é um líder de verdade?

Simples. Olhando sobre o seu ombro e verificando quantos seguidores essa pessoa tem. E quando eu digo “seguidores”, por favor, não confunda seguidores de um líder com os seguidores que você tem no instagram, por exemplo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O seguidor de um líder é alguém que é leal, que é fiel, e que realmente acredita que o seu líder pode fazer uma enorme diferença na vida das pessoas.

Outra coisa: não confunda seguidor com puxa-saco. Por mais que, eventualmente, as duas coisas possam andar juntas, em essência são completamente diferentes. O(a) puxa-saco é aquele(a) que vê a oportunidade de um benefício imediato, de curto-prazo. O seguidor está ciente de que às vezes o benefício pode demorar a vir, mas, como se considera um soldado, entende que a causa vem antes do seu interesse pessoal. Se tiver que se sacrificar pela causa, o seguidor o fará. Puxa-sacos jamais se sacrificarão. Não voluntariamente.

E, detalhe: O fato de um sujeito andar na rua com meia-dúzia, ou que seja meia centena, de puxa-sacos pagos atrás dele não faz dessa pessoa um líder. Apenas mais um politiqueiro. E às vezes um caloteiro também — já que o que não falta nesta cidade é relato de gente que, em época de eleição, contrata… mas não paga aquela grande massa de gente que o acompanha nos ditos “compromissos políticos”.

E me encaminhando para o final deste editorial, não posso deixar de lembrar algo que é bastante óbvio, mas às vezes esquecido: Nem todos os líderes são iguais, e, por isso mesmo, nem todos são bons para liderarem a mesma causa ou missão. As características que tornam uma pessoa um bom líder em algumas situações são as mesmas que o desqualificam para outras situações. Um bom líder da equipe de vendas da empresa não será, necessariamente, o melhor líder geral para a empresa. Do mesmo modo, um sujeito que se acostumou a gerenciar orçamentos engessados, quase que imutáveis, pode não ser um bom prefeito, onde às vezes se espera um orçamento e o dinheiro acaba vindo a menor.

Muito cuidado, também, com aqueles sujeitos que criticam todo mundo, mas nunca fizeram nada de prático na vida. Nesta época é muito comum de se ver pré-candidatos que se autodenominam líderes fazendo críticas a gestores em exercício quando eles mesmos nunca geriram sequer um botequim na esquina da rua onde moram. Sem querer parecer apelativo, é bem provável que você tenha visto o que aconteceu recentemente com o Cruzeiro, o time de futebol, vítima de gestores que nada mais eram do que líderes de si mesmos. Alguns não conseguem gerir nem a própria vida e se acham no direito de gerir a vida de toda uma comunidade — por mais irrazoável que isso seja. Você que me lê agora, por favor, não caia mais nessa!

E, por último: você não precisa procurar por um líder. O líder de verdade surge. Ele tem a capacidade de aparecer, e aparece. Quando o sujeito é um líder de verdade, ele aparecerá. Pode demorar, mas ele aparecerá. Veja o caso de Lula, Fernando Henrique Cardoso e de tantos outros. Os caras começam devagarinho e, quando se dá por fé, estão à frente do cargo mais importante do país. A mesma regra vale para a nossa cidade, também.

O líder de verdade simplesmente aparecerá. Mas, cuidado! Quando digo que o líder aparecerá estou me referindo a líderes de verdade, aqueles que são o que são. Pessoas que precisam se autoafirmar enquanto líderes geralmente não são líderes de coisa nenhuma, nem mesmo de si mesmos. As ações do líder falam mais alto do que suas palavras. Se você não sabe o que o sujeito liderou, é bem provável que ele não tenha liderado nada. E, por isso mesmo, por favor, não confunda o(a) líder de verdade com aquele(a) que se diz líder sem nunca ter liderado… como eu disse, nem mesmo a sua própria casa.

Os líderes de si mesmos podem até ser uns malas. Mas os maiores malas são os que elegem esses caras para liderá-los.

Como o meu avô dizia: “Quando a cabeça não pensa, o corpo é que padece!”

Bem… a eleição 2020 está às portas. Então, por favor, pense!

E como eu sempre digo:

Quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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