Estado Islâmico sequestra 230 muçulmanos e cristãos em cidade da Síria

Estado Islâmico sequestra 230 muçulmanos e cristãos em cidade da Síria

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) sequestrou 230 civis, entre muçulmanos e cristãos, em uma cidade no centro da Síria símbolo da coexistência entre religiões e que foi tomada pelos extremistas no dia anterior.

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), os civis foram sequestrados na quinta-feira na cidade de Al-Qaryatain, da qual o EI se apoderou na quarta-feira.

“O Daesh (EI em árabe) sequestrou pelo menos 230 pessoas, entre elas 170 sunitas e mais de 60 cristãos acusados de colaboração com o regime durante uma operação em Al-Qaryatain”, explicou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, usando o acrônimo em árabe do EI.

O arcebispo Matta al-Khury, secretário do patriarcado siríaco ortodoxo em Damasco, indicou à AFP que não pode confirmar essas informações “porque é muito difícil estabelecer contato com os habitantes locais”.

“Mas nós sabemos que quando entraram na cidade, os jihadistas proibiram os habitantes de deixar suas casas a fim de utilizá-los como escudos humanos” contra os ataques do regime, acrescentou.

Antes da guerra, a cidade de Al-Qaryatain tinha 18.000 muçulmanos sunitas e cerca de 2.000 católicos sírios e cristãos ortodoxos. Mas segundo o arcebispo al-Khury, restavam apenas 180 cristão após o ataque do EI.

Centenas de cristãos de cidades próximas deixaram a região ante o avanço do EI, segundo o OSDH.

De acordo com Rami Abdel Rahmane, o EI possui uma lista de pessoas a serem presas, mas costumam prender famílias inteiras que tentam fugir. O líder ortodoxo apelou os jihadistas a libertar os reféns.

Coexistência

Nesta cidade cercada pelo deserto, as relações entre cristãos e muçulmanos sempre foram excelentes, indicou à AFP uma mulher de Al-Qaryatain, citando como exemplo a cerimônia que marca o fim das obras de reforma de uma igreja do século VI, St. (Mar) Elian, em 9 de setembro de 2009.

“Naquele dia, havia o núncio apostólico, o imã, e as duas comunidades participaram da missa. Havia também dois religiosos cristãos que pregavam a convivência entre cristãos e muçulmanos, o padre Paolo (Dall’Oglio) e o padre Jacques Mourad, que foram sequestrados”, acrescentou.

Jacques Mourad, padre católico sírio do mosteiro de Mar Elian de Al-Qaryataine, foi sequestrado em maio por três homens mascarados, no dia seguinte à tomada pelo EI da antiga cidade de Palmyra, não muito longe.

Paolo Dall’Oglio, um jesuíta, foi sequestrado em julho de 2013 pelo EI.

O nome da localidade é um símbolo de coexistência, Al-Qaryatain significa as “duas aldeias” em árabe.

Durante as invasões árabes do século VII, os habitantes cristãos tomaram a uma decisão sem precedentes: a metade de cada família se converteu ao Islã, a fim de proteger os outros membros.

“É por isso que muitas vezes as pessoas têm o mesmo sobrenome, mas são de diferentes religiões”, explica esta mulher de Al-Qaryatain.

Durante a guerra, há dois anos, cerca de 700 muçulmanos de Homs refugiaram-se no mosteiro ao lado da igreja, ela acrescenta.

Localidade estratégica

Al-Qaryatain é um importante entroncamento que liga a periferia da província de Homs e o leste de Qalamun, perto da fronteira com o Líbano, duas regiões onde EI está presente.

A conquista da cidade permitirá ao EI transferir tropas e suprir as duas áreas, de acordo com o OSDH, com sede na Grã-Bretanha, mas que conta com uma importante rede de ativistas na Síria.

O conflito na Síria fez em quatro anos mais de 240.000 mortos, incluindo 12.000 crianças, de acordo com um recente relatório do OSDH.

Ele foi iniciado em março de 2011 pela sangrenta repressão de manifestações pacíficas contra o governo que degeneraram em revolta armada e, em seguida, brutal guerra civil.

Os combates opõem regime, rebeldes, curdos e jihadistas que se enfrentam em um território cada vez mais fragmentado, e mais de metade da população está deslocada ou refugiada.

A guerra ganhou um caráter particularmente dramático com o uso de armas químicas. O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve adotar nesta sexta-feira uma resolução para formar um grupo de peritos para identificar os responsáveis por ataques químicos recentes com cloro.

Fonte: Estado de Minas



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