Eduardo Cunha e a delação premiada: ele vai ou não fazer o acordo?

Eduardo Cunha e a delação premiada: ele vai ou não fazer o acordo?

Ele deve conceder uma entrevista nesta terça para dizer que “não”. Mas é preciso que a gente analise como e por que surgiu esse boato e a quem ele eventualmente se destina

Por Reinaldo Azevedo
VEJA.com

O deputado e presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vai ou não vai fazer delação premiada? Pois é… O seu entorno sempre temeu que a Lava-Jato pudesse chegar ao elemento que poderia desestabilizá-lo: a família. Chegou. Sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz, é uma investigada. E sem direito a foro especial. Está na 13ª Vara Federal de Curitiba, sob o juízo de Sergio Moro.

A possibilidade de Cunha optar por uma delação premiada deixou o mundo político de Brasília, particularmente da Câmara, ainda mais nervoso. E o próprio Cunha, como informa reportagem da Folha desta segunda, busca acalmar aliados. Recorreu ainda às redes sociais para desmentir o boato. Cunha diz que vai é se defender. Deve conceder uma entrevista coletiva na terça-feira para se defender uma vez mais das acusações.

O problema de uma personagem como ele fazer delação premiada é o seguinte: a quem, exatamente, ele vai denunciar? As principais acusações que pesam contra Cunha não o colocam no centro da articulação do petrolão ou coisa do gênero. Sendo verdade tudo o que se diz contra ele, o deputado se situa numa espécie de bolsão periférico, haurindo vantagens de um sistema corrupto, mas sem nunca ser seu principal operador.

Tome-se o caso da acusação de que recebeu US$ 5 milhões de propina num acordo sobre navios-sonda. Se a denúncia se confirmar e ele for condenado, terá sido, nesse caso, um corrupto de segunda mão. Ele não participou do acordo original. Segundo a acusação, foi procurado por Fernando Baiano porque Júlio Camargo, da Toyo Setal, este sim, estava deixando de pagar uma propina que já tinha sido acertada com o lobista.

Por que isso é importante?

Muito se comenta em Brasília que parte considerável do poder que Cunha acumulou ao longo dos anos se deveu à sua eficiência em arrumar recursos de campanha para os parlamentares. A isso se deveria a fidelidade que lhe devem parcelas consideráveis da Câmara, embora o deputado já tenha caído em desgraça.

É pouco provável que uma delação de Cunha traga elementos novos sobre a operação do petrolão, por exemplo. O que muitos temem é que venham a público dados sobre financiamento de campanha, o que poderia contribuir para jogar muitos parlamentares na fogueira.

Nesta terça, Eduardo Cunha fala. Deve negar de pés juntos que vá fazer delação premiada. Como é a que informação começou a circular? Do nada é que não foi. Ele precisará de pelo menos 257 votos para não ser cassado por seus pares. Não é uma tarefa fácil, especialmente em tempos de voto aberto. E ele é hoje uma personagem notavelmente impopular. Deve-se considerar que a boataria de que pode fazer delação premiada está endereçada àqueles que eventualmente receberam a sua ajuda.

Afinal, como se sabe, não existe prazo legal para uma delação. E um parlamentar cassado também pode fazer o acordo.



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