Ademir Camilo e o quiproquó da Gráfica do Gaúcho: a situação, convenhamos, mais parece uma caça às bruxas

Ademir Camilo e o quiproquó da Gráfica do Gaúcho: a situação, convenhamos, mais parece uma caça às bruxas

Por David Ribeiro Jr.
TEÓFILO OTONI

Ai, ai, ai… eu até me lembro a última vez que usei a expressão quiproquó para me referir a uma polêmica gerada por um político local. Da última vez tinha a ver com o caso de uma certa… ambulância — e você, com certeza, sabe a que me refiro. O texto não está mais disponível no minasreporter.com porque quando trocamos a plataforma do nosso antigo blog para o atual portal, o banco de dados anterior, por causa de uma falha técnica ocorrida no sistema durante a mudança, acabou não sendo salvo. Com isso perdemos todos os textos publicados de 16 de janeiro de 2014 (data em que o blog iniciou as suas atividades) até o dia 20 de novembro do mesmo ano. No dia 21 de novembro de 2014 a nova plataforma, esta que você está vendo agora, inclusive com um novo layout, melhor, mais moderno e mais encorpado, foi colocada no ar. Obs.: apesar de não termos o banco de dados anterior salvo aqui no portal, temos todo ele em arquivo externo. Desde à mudança que temos a intenção de importar o banco de dados antigo, mas, em função dos muitos afazeres, ainda não o fizemos. Mas não faz mal. Bola pra frente! Ainda teremos oportunidade pra isso.

Ok! Voltemos agora ao caso Ademir Camilo e o quiproquó da Gráfica do Gaúcho.

Vamos por partes. Na quinta-feira (03/12) a coluna A.PARTE do Jornal O TEMPO divulgou a seguinte notícia, que segue abaixo, em vermelho. Depois volto para fazer algumas considerações:

Ademir Camilo gasta verba em firma que doou à campanha

Segundo as informações do gabinete de Camilo, os gastos se fazem dentro da lei, e a gráfica ofereceu o melhor orçamento para os serviços

Desde o início de seu quarto mandato na Câmara Federal, o deputado federal Ademir Camilo (PROS) já gastou R$ 90 mil de sua cota em divulgação de atividade parlamentar em pagamentos para a Gráfica do Gaúcho. Segundo o site Olho Neles, que acompanha os gastos de políticos com verba indenizatória, desde 2012 o parlamentar já destinou R$ 360 mil para a empresa, que é a fornecedora que mais recebeu do deputado, com o dobro do dinheiro destinado à companhia aérea Gol, que ocupa a segunda colocação.

Dados disponíveis no TSE apontam que a gráfica doou R$ 600 para a campanha de Camilo em 2014. Já a sócia da gráfica, Solange Regina, diz que as doações feitas para o político na verdade foram de aproximadamente R$ 6.000. Ela não vê contradições em apoiar o cliente. “Ele é um freguês antigo, que nunca nos deu problema, por isso resolvemos apoiá-lo”, descreveu.

De acordo com ela, o parlamentar roda quase todos os meses entre 15 mil e 20 mil exemplares de seu informativo. Já a assessoria de Camilo afirma que a tiragem do material varia entre 30 mil e 60 mil cópias. Entretanto, o maior pagamento para a gráfica neste mandato foi registrado em janeiro deste ano, quando foram pagos R$ 22.350,00 por 30 mil jornais.

Segundo as informações do gabinete de Camilo, os gastos se fazem dentro da lei, e a gráfica ofereceu o melhor orçamento para os serviços. Sobre a contratação de uma empresa que fez doações para a campanha do deputado, a assessoria informou que isso não a descredencia como fornecedora.

Voltei.
Sinceramente, não entendi o motivo para tamanha polêmica em torno desta reportagem. Que a publicação do texto é legítima, é, claro! É fato que a notícia é verdadeira, absolutamente verdadeira. O problema é que este tipo de publicação… vamos ser adultos agora… por mais verdadeira que seja, gera no público uma leitura diferente, como se se tratasse de uma denúncia a respeito de algo errado — ainda mais tendo em vista o momento em que vivemos, quando quase toda a classe política anda desacreditada no país.

Sejamos realistas: qual o problema de um deputado, seja Ademir Camilo ou qualquer outro, direcionar parte da sua verba de gabinete para custear serviços em empresas que doaram para a sua campanha? Nenhum… Isso é proibido por lei? Não, não é… Por acaso algum outro parlamentar faz diferente?… Não é exatamente isso o que todos nós, você e eu, inclusive, fazemos no nosso dia a dia quando damos preferência para empresas parceiras? Eu, por exemplo, prefiro comprar em empresas que anunciem no Jornal O REPÓRTER NOTÍCIAS (e, a propósito, o portal minasreporter.com está, desde o último dia 06 de dezembro, com a sua nova plataforma comercial modernizada para receber anúncios comerciais e institucionais de todos os portes e com diversos tipos de perfis de campanhas de mídia ao seu dispor).

Alguém pode acabar argumentando o seguinte: “o caso de Ademir é diferente. O dinheiro que ele está usando na gráfica é público e, portanto, pertence ao povo”. É verdade; o dinheiro é público, pertence ao povo e tudo o mais… Mas ocorre também que, constitucionalmente, este mesmo dinheiro está carimbado para ser usado por Ademir, enquanto congressista, para custear o seu trabalho parlamentar. Não foi ele quem criou esta regra. Ela apenas existe e pronto. Sendo assim, até agora eu não vi nada de errado no fato de Ademir comprar serviços na referida Gráfica do Gaúcho.

Confesso até que houve alguns detalhes da reportagem que me chamaram a atenção. Por exemplo: a dona da gráfica, Solange Regina, diz que doou à campanha do deputado a quantia de R$ 6 mil. Por que só aparece R$ 600,00 (seiscentos reais) registrados na prestação de conta da campanha? A dona da gráfica diz que o deputado imprime todos os meses entre 15 e 20 mil exemplares do informativo que presta contas do seu mandato parlamentar. O gabinete do deputado diz que a tiragem do dito informativo está entre 30 e 60 mil cópias. Estranho? Bastante. Mas então que se foque nos pontos realmente estranhos e nos buracos desta notícia, nas perguntas que estão sem respostas e nas explicações insípidas, e não no fato de o deputado comprar produtos e serviços de pessoas que fizeram doações à sua campanha. À época as doações eram permitidas. Sendo assim, não há nada de errado nisso.

Alguém suspeita de estranhezas na transação? Então que se pegue as notas da gráfica, que devem estar disponíveis no Portal Transparência, e compare o preço do serviço com o preço praticado pela concorrência. Enfim: que se faça, de fato, um trabalho jornalístico de investigação. Com todo o respeito, a impressão que se tem ao ler a dita reportagem é que, diante do momento de crise política que estamos atravessando, e do quase total descrédito da classe política, iniciou-se uma caça às bruxas. E, convenhamos, não é por aí que a marcha toca.

Antes que alguém me acuse de estar sendo conivente com o erro, ou complacente com o deputado Ademir Camilo, antecipo-me insistindo que não estou. É exatamente o contrário: não quero ser conivente com o erro de ninguém. Ainda ontem eu publiquei um texto nesta coluna-editorial onde, até certo ponto, admito, ironizava a ausência do deputado federal Ademir Camilo em Teófilo Otoni. Também apontei aqui neste texto outros dois pontos que servem de base para uma ampla reportagem de apuração sobre o emprego de verbas de gabinete entre os parlamentares mineiros, e mais especificamente o caso do deputado Ademir Camilo.

Cá pra nós: com tudo o que se tem pra dizer sobre o caso, insistir em se focar na compra de serviços em empresas que doaram para a campanha é quase uma afronta à inteligência da gente. E pior: o enfoque dado à reportagem pode ser usado erroneamente como argumento para embasar a ridícula proibição pelo STF de empresas doarem para candidatos a cargos eletivos, uma prática que existe em todo o mundo civilizado e democrático, e cuja proibição no Brasil só interessa ao PT e aos seus partidos-satélites. Como os partidos vermelhos, se é que você me entende, e eu sei que entende, têm mando, controle e domínio de sindicatos, ONGs e outros ditos movimentos sociais, eles têm ao seu dispor um enorme caixa dois de campanha inteiramente bancado com dinheiro público — o que é uma concorrência extremante desleal. E se você duvida disso, veja o caso do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), que foi eleito pela primeira vez, em 2010, numa campanha bancada, pelo menos em parte, por dinheiro que, segundo o Ministério Público, foi desviado pela ex-deputada Janira Rocha (PSOL-RJ) do Sindicato dos Trabalhadores de Saúde, Trabalho e Previdência Social (SINDSPREVI-RJ). A ex-deputada está, inclusive, respondendo processo por improbidade administrativa por causa da denúncia de desvios de fundos do sindicato, e por manter funcionários fantasmas em seu gabinete quando foi deputada estadual.

E se você ainda insiste em duvidar da lógica do meu raciocínio, espere para ver como, principalmente nos grandes centros, as campanhas do PT e dos demais partidos vermelhos serão muito mais encorpadas do que as campanhas concorrentes no ano que vem, uma vez que empresas estão proibidas de doar. Afinal, o apoio dessas entidades é, ínsito, um benevolente caixa 2 para o partido e seus aliados.

E, como sempre digo, quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



Deixe seu comentário

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.