A marcha dos comprados e dos vendidos é um vexame. Ainda bem para os esquerdistas que os decentes não topam a luta armada!

A marcha dos comprados e dos vendidos é um vexame. Ainda bem para os esquerdistas que os decentes não topam a luta armada!

Que bom para as esquerdas que não haverá luta armada no país, não é?, como chegou a sugerir o presidente da CUT, Vagner Freitas, e o chefão do MTST, Guilherme Boulos. Sim. Vamos convir: a partir de um determinado número, quantidade vira destino — a exceção, por três dias ao menos, é a Batalha das Termópilas… Pesquisem a respeito.

O PT e as esquerdas decidiram sair às ruas no país inteiro para defender o governo Dilma. Na Internet, a manifestação foi batizada de “Marcha dos Pixulecos”. O exército virtual petista tentava emplacar hashtags em favor da patuscada, mas nada! “#MarchadosPixulecos” chegou a disparar.

Foi um mico. Prestem atenção! Movimentos da sociedade civil, sem militância profissional, conseguiram levar no domingo, segundo as PMs, quase 700 mil pessoas às ruas. Segundo as policias, no país inteiro, os esquerdistas reuniram, no máximo, 73 mil — 175 mil segundo os organizadores. Vale dizer: comparando-se estimativas da mesma fonte, os vermelhos reuniram pouco mais de 10% do público que protestou no domingo.

Insisto: o maior partido se juntou à maior central, contando com o apoio de aparelhos como MST, UNE e MTST para juntar 10% da população que foi às ruas espontaneamente. Em São Paulo, que reuniu mais gente nos dois dias, a PM estimou 350 mil contra Dilma e 40 mil a favor.

Fosse no braço, fosse de arma na mão, a esquerda tomaria uma surra. Mas, felizmente, não será assim. A sova que os vermelhos tomam é mesmo de civilidade.

Comece-se pelo óbvio: os que querem Dilma fora do Palácio do Planalto se reuniram num domingo. Não atrapalharam a vida de ninguém. Estou num prédio da Avenida Paulista. A cidade vive o seu inferno, com buzinas irritadas, colapso no trânsito, dificuldades as mais variadas.

Explica-se: os que tomam a avenida, na sua maioria, são manifestantes profissionais. À diferença dos que trabalham para arrecadar os impostos, esta é a ocupação dessa gente: atrapalhar as pessoas ocupadas.

A pauta, Brasil afora, é o um samba-do-crioulo-doido. É claro que todos querem que Dilma permaneça no poder e chamam o impeachment de “golpe”, mas também se pede a cabeça de Joaquim Levy, hoje o ministro que garante alguma credibilidade à presidente.

E, obviamente, não poderia faltar o “Fora Cunha!”. Afinal, ele é considerado hoje o principal adversário das esquerdas. O dia é especialmente propício para isso — coisa de que trato em outro post.

O mais notável, em suma, é que os valentes foram às ruas, torrar a paciência de quem trabalha, em defesa do governo Dilma, mas contra as medidas do… governo Dilma!

Que é, leitor? Você não vai agora cobrar coerência de esquerdistas, não é? Se coerentes fossem, estariam, neste momento, planejando a revolução, em vez de ir à rua defender o governo e, adicionalmente, a honra ilibada de ladrões.

Ah, sim: por onde quer que passasse a Marcha dos Pixulecos, em São Paulo, moradores dos prédios saíam à janela e esfregavam o polegar ao indicador. Nós sabemos o que isso quer dizer. Os paulistanos estavam deixando claro que, para eles, nem todos os que estavam na rua eram comprados. Alguns eram vendidos.

Por Reinaldo Azevedo, na Veja.com



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