A era do instantâneo

A era do instantâneo

Os apps Meerkat e Periscope são frutos de uma época em que impera a efemeridade: tudo é filmado e reproduzido ao vivo, mas logo depois some na rede. Eles prometem ditar uma nova forma de gravar e assistir a vídeos

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Por Lucas Ribeiro

A internet, somada à câmera de smartphones, inaugurou uma era em que tudo pode ser gravado e compartilhado – o que transformou a vida de muitos em um reality show virtual, transmitido via Facebook. Mas até este momento a regra estabelecida era: um indivíduo grava, fotografa ou escreve algo e, depois, publica. No processo, ele tinha tempo de editar o conteúdo ou desistir de compartilhá-lo. Dois novos aplicativos de iPhone quebraram essa lógica. Pelo Meerkat (lançado em fevereiro) e pelo Periscope (em março), assim que se clica no ícone de gravar, a câmera não só começa a funcionar, como a transmitir, ao vivo, para milhões de pessoas. Os apps transformam celulares em câmeras de TV. Com isso, prometem mudar completamente a forma como registramos nosso ponto de vista da realidade, e até mesmo a relação de confiança que estabelecemos entre nós. A noção de que tudo o que fazemos é gravado se tornou mais incipiente: agora, não só é filmado, como o mundo pode estar olhando, sem sabermos.

Em inglês, meerkat significa suricato, aquele mamífero africano com cara de roedor que ganhou fama entre crianças como o personagem Timão do desenho O Rei Leão. “Os suricatos estão sempre alertas, atentos, ao que ocorre ao redor”, definiu o empreendedor israelense Ben Rubin, fundador do Meerkat, ao explicar a escolha do nome. Como é de praxe entre aplicativos recém-lançados, a startup ainda não divulga o número de cadastrados no programa. Estima-se, porém, que já passe de 1 milhão de usuários (alertas a tudo ao redor, como os suricatos), com um crescimento diário que chega a superar os 30%.

Pelo app são transmitidos de protestos contra a violência policial nas ruas de Nova York a vídeos de pessoas assistindo a suas séries preferidas de TV. O Meerkat também conquistou celebridades, moedas preciosas para qualquer nova rede social (visto que atraem milhares de fãs). Neste mês, a cantora americana Madonna – usuá­ria mais popular – escolheu lançar seu novo videoclipe, Ghosttown, no Meer­kat. A transmissão teve uma série de problemas técnicos. Mas a escolha de Madonna revela outro fenômeno: a gradual substituição da TV por smart­pho­nes e tablets. Há uma década, a cantora teria optado por apresentar seu clipe em uma emissora de televisão, a exemplo da MTV. Agora, acredita que é muito mais eficiente usar um app de iPhone.

O sucesso do Meerkat despertou a atenção de outras redes sociais, mais veteranas. O Twitter foi o primeiro a se mexer, lançando seu Periscope no mês passado. O app funciona praticamente do mesmo modo que o concorrente, com a vantagem de ter acesso aos 300 milhões de usuários do Twitter, além de se apoiar na força de divulgação da rede social. Dick Costolo, CEO do Twitter, faz campanha para extinguir o rival. Um dos motivos de o Meerkat ter crescido tão rápido era ele ser completamente interligado com o Twitter. Se uma pessoa se cadastrava no app, já via quem de seus amigos no Twitter também estava na nova rede. Quando o usuário começava a transmitir um vídeo ao vivo, era gerado um tuíte automático avisando seus contatos. Costolo acabou com essa parceria, para fortificar seu Periscope. O CEO ainda começou a contatar celebridades e políticos, para sugerir que desinstalassem o Meer­kat do celular e o trocassem pelo Periscope.



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