— Por David Ribeiro Jr. —
A política moderna é, sem sombra de dúvidas, uma das mais fascinantes manifestações da cultura humana. E, no caso de Teófilo Otoni, a política ganha contornos ainda mais acentuados por causa das nossas peculiaridades. Um exemplo: Enquanto um grande grupo da oposição vem trabalhando para tentar unificar os diferentes matizes que se opõem ao prefeito Daniel Sucupira a fim de propiciar um ambiente plebiscitário, no seio petista a preocupação é outra: qual é a melhor opção de candidato a vice para a reeleição do atual prefeito?
Apenas refrescando a sua memória: o prefeito Daniel Sucupira está governando sem a figura do vice. O eleito para a função neste mandato foi o médico José Roberto Correia, que faleceu em 21 de novembro de 2017 (leia mais aqui).
Antes de nos desdobrarmos sobre as opções de Daniel, é importante lembrar como agiram os candidatos à reeleição nos últimos vinte anos — que é desde quando passou a viger a reeleição no Brasil para cargos majoritários, como é o caso de prefeito.
Em 2000 o então prefeito Edson Soares tinha como vice o advogado Antônio Walter do Amaral. Na disputa pela reeleição, repetiram a dobradinha, embora tenham ficado em terceiro lugar à época. A candidatura que se sagrou vitoriosa foi a de Getúlio Neiva, que tinha o então vereador Ademir Camilo como vice. Em segundo lugar ficou a então deputada estadual Maria José, que tinha o também vereador Jorge Medina como candidato a vice.
Em 2004 Getúlio Neiva disputou a reeleição e também repetiu a dobradinha, mantendo Ademir Camilo, à época suplente de deputado federal, como seu vice. A chapa foi derrotada, ficando em segundo lugar nas eleições. A chapa vencedora foi a da então deputada Maria José, que tinha como vice o médico Dr. Ailton João dos Santos. Detalhe importante: O candidato oficial a vice de Maria José em 2004 era o ex-prefeito Edson Soares. Contudo, uma derrota num processo que corria na Justiça resultou na cassação dos direitos políticos de Soares por três anos, o que inviabilizou a sua permanência na chapa, tendo sido substituído pelo Dr. Aílton, que até então seria candidato a vereador.
Em 2008 a prefeita Maria José optou por não repetir a dobradinha com o Dr. Aílton, embora as relações se mantivessem estáveis. Pelo bem do grupo, o PT optou por convidar para assumir a vaga de vice o advogado Antônio Walter do Amaral, que foi vice-prefeito de Edson Soares na administração 1997–2000. A estratégia deu certo e o partido venceu o então candidato Getúlio Neiva, que tinha como vice a professora e ex-vereadora Emília Menezes.
Em 2012 o PT não poderia disputar uma reeleição, mas o partido não estava disposto a abrir mão do comando da Prefeitura. Um candidato bastante inovador foi apresentado pelo partido: Ricardo da Emex, um empresário bem-sucedido que assumira recentemente a presidência da Associação Comercial e Empresarial (ACE). O partido optou por uma chapa puro-sangue, já que a candidata a vice foi a educadora Maria Helena Costa Salim, uma das figuras mais proeminentes da legenda na cidade. A chapa vencedora, no entanto, era formada por Getúlio Neiva, que foi eleito para o seu terceiro mandato de prefeito, tendo, dessa vez, o então vereador e médico Dr. Ilter Volmer Martins como seu candidato a vice.
Em 2016 o então prefeito Getúlio Neiva sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) um dia depois da convenção que aprovou a sua candidatura à reeleição (leia mais aqui). Na mesma convenção a dobradinha anterior foi mantida, de forma que o vice ainda seria o médico Dr. Ílter. Contudo, a chapa não conseguiu se reeleger. O vitorioso foi o jovem vereador Daniel Sucupira, que tinha como vice o médico José Roberto Correia. Mas, como dito no início deste artigo, o Dr. José Roberto faleceu em novembro de 2017 (leia aqui).
Mas e agora? Com a morte do Dr. José Roberto, abriu-se uma lacuna deixando o prefeito muito à vontade para escolher um novo vice sem culpa e sem constrangimento com quem tiver que ser deixado para trás.
Nos bastidores do poder público em Teófilo Otoni alguns nomes têm sido ventilados como eventuais candidatos a vice do prefeito. Neste artigo enumerarei alguns deles. Porém, que fique claro: não estou afirmando aqui que qualquer um deles será o vice do prefeito Daniel Sucupira em sua campanha à reeleição. Esses são apenas os nomes que têm sido ventilados nos corredores do poder. É verdade que muitos deles foram procurados e sondados por pessoas próximas do prefeito. Mas não há um único caso em que o prefeito em pessoa tenha se manifestado. Precavido, Daniel prefere deixar a sua decisão para a hora certa, assim como fez acertadamente em 2016.
Vamos aos nomes!
Jonas Boa Ventura Santos
O atual secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Economia Solidária, Emprego, Trabalho e Renda, Jonas Boa Ventura Santos, é considerado um dos nomes favoritos da cúpula petista para ocupar o lugar de vice de Sucupira. Em seu favor, Jonas Boa Ventura tem um fato, ou critério, bastante curioso: Quando foi indicado para assumir a secretaria na qual se mantém como titular até hoje, muita gente virou a cara para a indicação. Houve até quem dissesse que tal nomeação não passava de uma forma de fritar o pastor que estaria recebendo a indicação como prêmio de consolação em reconhecimento ao apoio recebido por Daniel Sucupira de uma enorme ala evangélica. Pejorativismos à parte, o Pastor Jonas acabou surpreendendo até quem já acreditava nele e desenvolveu um trabalho sério e eficiente, com muitos acertos que fizeram com que o pastor de formação conquistasse o respeito da sociedade como um todo, em especial da classe empresarial, que hoje reconhece o seu valor para a Pasta. E é exatamente esta história de superação, associada ao seu bom trânsito junto a diferentes correntes evangélicas, que gabaritam Jonas para disputar a vaga de vice de Sucupira em 2020. E, assim como ocorreu com o Dr. José Roberto, que acumulou as funções de vice-prefeito e secretário de Saúde, Jonas Boa Ventura pode, se for do interesse do grupo, acumular a função de vice, e ainda se manter à frente da Secretaria que o projetou. Observação importante: Se não for candidato a vice, muita gente considera como certa a candidatura a vereador por parte do secretário que, para se dedicar à campanha, pode deixar a Pasta em breve, como determina a legislação eleitoral.
Eliane Moreira de Aguilar
Outro nome que ganhou muito destaque nesta Administração foi o da Secretária de Ação Social e Habitação, Eliane Moreira de Aguilar, que hoje ainda acumula a Secretaria de Cultura e Patrimônio Histórico sob a sua batuta. Em seu favor, Eliane, que já foi candidata à vice-prefeita na chapa de Giovani Cota, em 2004, teria o fato de ser uma das secretárias mais populares desta Administração, e também se mostrar extremamente leal ao prefeito e ao seu governo. Além do mais, é mulher, o que daria um quê a mais à chapa, propondo uma imagem de inclusão social.
Tarcirlei Mariniello de Brito
Fechando o rol dos secretários municipais que podem vir a ser candidatos a vice de Sucupira temos o atual titular da Pasta do Planejamento, Tarcirley Mariniello de Brito. Muita gente vê no secretário apenas um amigo pessoal do prefeito Daniel Sucupira, mas quem conhece a Administração de perto sabe que Tarcirley é muito mais do que isso. Segundo fontes seguras, Tarcirley é um homem de mente extremamente estratégica, um gestor acima da média, mas com um pequeno problema: Ele não é tão popular, ou tão conhecido pelo grande público, como os dois nomes citados anteriormente. Mas isso, ao invés de ser um entrave, poderia ser uma boa razão para ser escolhido por Daniel como uma forma de prepará-lo para suceder o prefeito em 2024 e garantir uma base de sustentação para os projetos futuros de Sucupira.
Vereador Gilson Dentista
O vereador e odontólogo Dr. Gilson Ferreira Gonçalves, ou Gilson Dentista, como é mais conhecido, se destacou nas últimas eleições por ser filiado a um partido que não estava na base de apoio do então candidato Daniel Sucupira, mas ele, Gilson, pessoalmente, foi um ferrenho defensor da candidatura petista. E de lá para cá o vereador tem se mantido um aliado leal e comprometido com a Administração do prefeito. Além disso, Gilson ainda teria em seu favor o fato de ser muito benquisto na zona rural — que nos últimos anos tem sido um gargalo nas campanhas de reeleição.
Vereador Fábio Lemes
Outro nome de um parlamentar do município que também é apontado como eventual candidato a vice de Daniel é o do administrador Fábio Lemes, gestor do Hospital Philadelfia. Fábio vinha sendo apontado como um possível candidato a prefeito pelo partido Avante. Mas, uma vez que o partido fechou apoio à candidatura de Bruno Balarini, Fábio pode abandonar a legenda para insistir numa candidatura à Prefeitura em outra agremiação, ou, como muitos apostam, aceitar o desafio de ser o vice de Daniel Sucupira, formando uma chapa jovem e antenada na atual realidade do Século 21.
Vereadora Mila
Outra vereadora que também tem sido citada como uma provável candidata a vice de Daniel é Maria Emília Pinto Soares, a Mila. Atualmente filiada ao MDB, Mila chegou a ser convidada a assumir uma secretaria na Prefeitura este ano, mas ela teria declinado do convite, embora tenha mantido a boa relação com a Administração. Em seu favor, Mila conta com uma trajetória política de sete mandatos como vereadora, um nome limpo e benquisto, é mulher, tem uma reconhecida garra pessoal e política, é negra — o que reforçaria a ideia de uma chapa inclusiva —, e, como diretora de escola que foi fora do ambiente político, entende como funciona a gestão de órgãos públicos, sem falar que daria um novo gás à imagem do prefeito a fim de tornar mais aceitável a candidatura de Daniel junto todos aqueles que hoje são simpatizantes do antipetismo — acredite, isso existe.
Maria Helena Costa Salim
A ex-presidente do PT local, Maria Helena Costa Salim, é sempre um nome lembrado como candidata à Prefeitura de Teófilo Otoni. Mas, por motivos óbvios, é evidente que o partido está fechado com o atual prefeito, que tem direito, e condições, de se reeleger. Em função disso Maria Helena fica automaticamente cotada para o posto de candidata a vice. Além de ser uma figura que transita bem em todas as vertentes de esquerda, e em especial do PT raiz, além de ser admirada pela turma do PT mais jovem da cidade, seria uma ótima opção. Por ser mulher, também reforçaria o discurso da chapa inclusiva.
Frank Alves
O empresário Frank Alves, presidente da CDL-TO e um dos sócios-proprietários do Sistema Itaoca de Rádio (98 FM) e tem sido sondado por alguns partidos que o querem como candidato a prefeito. Contudo, várias correntes do PT local ainda sonham com a possibilidade de atrair Frank para ser o candidato a vice na chapa de Daniel. Além de ser um homem considerado íntegro na sociedade local, também é respeitado pelo seu espírito empreendedor que fez dele um dos empresários mais bem-sucedidos da cidade. Por não ser dado aos holofotes, Frank Alves terá que se apresentar ao grande público; mas em seu favor ele tem um nome limpo e o respeito de várias camadas sociais que ajudariam a difundir o seu nome politicamente. É por isso que o PT local sonha tanto com ele como vice.
Ricardo Bastos Peres, o Ricardo da EMEX
O presidente da Associação Comercial e Empresarial (ACE) de Teófilo Otoni, Ricardo Bastos Peres, é outro nome muito benquisto nas bases petistas. Em 2012 Ricardo foi o candidato do partido à Prefeitura e obteve a expressiva soma de quase 30 mil votos, e isso num momento em que o PT local estava extremamente desgastado. À frente da ACE Ricardo tem feito um trabalho profícuo e de excelência reconhecida. Além de ter revitalizado a entidade, resgatou a Mostra Empresarial do Nordeste Mineiro, a EXPONOR, e se prepara para construir uma nova sede da ACE no bairro Grão-Pará. Alguns partidos o procuraram para ser candidato a prefeito pela legenda, mas Ricardo sempre disse que acreditava não ser o momento e acabava por elogiar a Administração do prefeito Sucupira, o que chamou a atenção da coordenação política do PT. “Talvez ele não queira ser candidato a prefeito agora, mas concordaria em ser o vice de Daniel”. Muita gente no PT sonha com essa possibilidade.
Jorge Medina
Outro nome que o PT deseja trazer de volta para o seu redil é do presidente do PSB local, o médico Jorge Medina. O Dr. Jorge foi o candidato a vice na chapa petista que tinha como candidata majoritária a então deputada estadual Maria José em 2000. Passou muito perto de vencer, mas a chapa acabou sendo derrotada por Getúlio Neiva. Desde então a relação de Jorge Medina com o PT tem sido muito instável. Houve momentos de muita proximidade, mas houve momentos de muito afastamento e oposição também. Atualmente, Jorge Medina, que se apresenta como candidato a prefeito pelo seu partido, admite ter muito respeito por Daniel Sucupira tendo em vista a proximidade que tinha com o falecido pai do atual prefeito, o líder comunitário Jerônimo Sucupira.
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Agora permita-me inverter um pouco as coisas. Ao invés de falarmos sobre os possíveis candidatos a vice de Daniel, abordarei os nomes que, atualmente, pelo andar da carruagem, dificilmente serão mais candidatos a vice, embora tenham sido apontados como tal em vários momentos nos últimos meses.
Bruno Balarini
O primeiro nome da lista não poderia ser outro. O ambientalista Bruno Balarini tem, de fato, bom trânsito junto com o PT, pois foi secretário na Administração da ex-prefeita Maria José. Contudo, ultimamente Bruno tem se destacado por ter sido o primeiro pré-candidato a se apresentar ao público oficialmente. E outra coisa: a sua pegada nada lembra a de outros nomes que falam que são candidatos a prefeito apenas para serem candidatos a vice de alguém. Tudo indica que Bruno, hoje o nome do partido Avante no pleito de 2020, levará a sua candidatura própria até o final.
Jorge Arcanjo
Outro nome que todo mundo dava como certo para ser o candidato a vice de Daniel Sucupira é o de Jorge Arcanjo. Mas atente para a conjugação do verbo. Todo mundo dava como certo o seu nome para ser o vice de Sucupira porque Jorge é o presidente do partido do vice anterior, o Dr. José Roberto Correia. Ocorre que Jorge tem estado muito afastado da Administração de Daniel e, embora não haja relatos de desavenças explícitas, o distanciamento é mais do que perceptível, é notório. E, além disso, Jorge tem insistido que este é o seu momento. Ou seja: também trabalha com a possibilidade de uma candidatura própria à frente do seu partido o Democracia Cristã.
Thalles Contão
Outro nome que, ironicamente, alguns apostavam para ser candidato a vice de Sucupira era o do ex-vereador Thalles Contão. Agora, antes que você pense que este colunista está maluco, deixe-me explicar: extraoficialmente, muita gente comenta que o deputado federal Fábio Ramalho, o Fabinho Liderança, o nome forte do MDB no Nordeste Mineiro, teria fechado apoio à reeleição de Sucupira, desde que possa indicar o candidato a vice. Que existe uma proximidade entre Fabinho e Daniel, isso é notório, e tanto é verdade que um dos homens mais próximos de Fabinho na região, o comunicador Lula Guedes, é coordenador institucional na Administração petista. A intenção, comenta-se, era trazer Thalles Contão, hoje próximo de Getúlio Neiva, para ser indicado para esta vaga de vice a fim de acabar a antiga rixa entre Getúlio e o PT local. Mas para dar um basta a essas especulações, Thalles acaba de se anunciar candidato a prefeito tendo Getúlio como vice (leia aqui).
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ENCERRANDO
É possível, realmente, que o nome do candidato, ou candidata a vice de Daniel saia de entre esses nomes aqui relacionados? Sim, é possível. É possível que seja um nome completamente diferente? Sim, também é possível. Fato é que uma eleição é definida a partir da boa imagem que o candidato consegue projetar junto à opinião pública, como eu expliquei no meu editorial anterior (leia-o aqui).
Às vezes é preciso verdadeiras reviravoltas para ganhar a eleição. Até porque uma coisa é ganhar a eleição; outra coisa bem diferente é governar. A grande pergunta que vem sendo feita por muitos profissionais do marketing político é “como vencer e ao mesmo tempo se preparar para governar com mais eficiência?” O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, pensou que tivesse encontrado a fórmula. Mas o seu governo está provando o quanto estava enganado.
O prefeito Daniel Sucupira é um homem inteligente e, quanto a isso, ninguém discorda. E, além do mais, ele tem pretensões de seguir na carreira política e alçar voos ainda mais altos num futuro próximo. Com o enorme desgaste do PT de Ipatinga, que sempre foi um dos polos do partido no Estado, e com o governo mal avaliado do ex-governador Fernando Pimentel, não se espante se Daniel, em médio prazo, se tornar uma das figuras mais proeminentes do PT em Minas Gerais.
Mas, antes, para que essa trajetória realmente ocorra, Daniel precisa ser reeleito e construir uma base minimamente viável para governar em um segundo mandato com bons índices de avaliação junto à opinião pública. A escolha do vice certo pode ajudar em seu projeto ou atrapalhar as suas ambições.
E, como eu sempre digo:
Quem viver, verá!