Foto de bebê encontrado morto no Mar Mediterrâneo comove o mundo

Foto de bebê encontrado morto no Mar Mediterrâneo comove o mundo

ONG alemã, que divulgou a imagem, cobra passagem segura a refugiados.

Martin, voluntário da organização Sea-Watch, segura o corpo da criança: gesto instintivo de proteção - Foto: Christian Büttner/Eikon Nord Gmbh Germany)
Martin, voluntário da organização Sea-Watch, segura o corpo da criança: gesto instintivo de proteção – Foto: Christian Büttner/Eikon Nord Gmbh Germany)

Quase nada se conhece sobre o bebê, inerte, aninhado nos braços de Martin. “Ele foi encontrado na última sexta-feira. Quando a nossa tripulação chegou, 350 pessoas estavam dentro da água e havia um número desconhecido de imigrantes presos sob o convés da embarcação de madeira, na costa da Líbia, no Mar Mediterrâneo. Ao recuperarmos os corpos, mais tarde, encontramos a criança flutuando na água, sem sinais de vida. Não sabemos se os pais sobreviveram ou não”, contou ao Correio Ruben Neugebaper, porta-voz da Sea-Watch. Para que a morte do pequeno não fosse em vão, a organização não-governamental alemã decidiu fotografá-lo e espalhar a imagem pelos quatro cantos do planeta.

”Nós decidimos pela publicação porque pensamos que a gravidade da situação exige que o mundo conheça a foto”, explicou Ruben. “A União Europeia (UE) utiliza o Mar Mediterrâneo como uma vala, enchendo-o de cadáveres, a fim de assustar os imigrantes e dissuadi-los de virem”, acrescentou. O ativista alerta que, enquanto não houver uma passagem segura e legal para os refugiados, tragédias como a de sexta-feira tornarão a ocorrer. “Vários barcos viraram na costa da Líbia, deixando centenas de mortos, como resultado da política externa europeia”, criticou o porta-voz. Em nota, a entidade privada assegurou ser “bastante cautelosa” em relação à utilização ética de informação e filmagens da missão.

Martin, o homem que aparece na foto segurando o cadáver do bebê, atua como piloto de bote rápido da ONG e é pai de três crianças. Ele preferiu não ter o sobrenome divulgado. Por e-mail enviado a agências de notícias, ele contou ter identificado a criança na água “como se fosse um boneco, com os braços estendidos”. “Segurei o braço dele e puxei o corpo leve, de forma protetora, para os meus braços, como se ele estivesse vivo. (…) O sol refletiu em seus olhos brilhantes e amigáveis, mas sem qualquer movimento”, lamentou. “Eu comecei a cantar para confortar a mim mesmo e para dar algum tipo de expressão àquele momento incompreensível e de cortar o coração. Apenas seis horas antes, aquela criança estava viva.”

De acordo com Ruben, a Sea Watch mantém entre 10 e 15 tripulantes em dois barcos. “Nós temos realizado esforços de busca e de resgate na costa da Líbia e no Mar Egeu”, relatou o ativista. Fundador da Sea-Watch, Harald Höppner também cobrou que os países da União Europeia forneçam passagem segura aos barcos com imigrantes. “Se não queremos ver tais imagens, então temos de parar de produzi-las”, desabafou. “Na sequência desses acontecimentos desastrosos, torna-se óbvio que os apelos de políticos da UE para se evitar mais mortes no mar soma-se a nada mais do que retórica vazia.” A imagem do bebê se soma à do garoto sírio Aylan, 3 anos, encontrado morto em uma praia da Turquia. Desde o início de 2014, mais de 8 mil pessoas morreram afogadas no Mediterrâneo.

Brasil expressa “tristeza”

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro afirma que o governo recebeu com “profunda tristeza e consternação” a notícia sobre as mortes de centenas de imigrantes no Mar Mediterrâneo, na semana passada. “Esses trágicos acidentes devem tocar a consciência de todos e reforçam a urgência de uma solução abrangente para a gravíssima crise de refugiados, que deve, necessariamente, incluir o apoio da comunidade internacional e um esforço concentrado na busca de soluções para os conflitos que estão na origem desse fenômeno e que levam milhões de pessoas a abandonar suas casas na procura de melhores condições de vida”, afirma o Itamaraty.

Balanço amargo
Mais de 13 mil pessoas foram resgatadas no Mar Mediterrâneo na última semana. Dezenas morreram e centenas estão desaparecidas.

» As estatísticas se mantêm

As chegadas de refugiados à Europa se concentram em um prazo determinado de tempo. O número se mantém no mesmo nível que no ano passado: 46.700 desde o início do ano, contra 47.400 em 2015, durante o mesmo período, segundo a ONU. Se o total de mortos e desaparecidos na área agora excede os 1.700, a Organização Mundial para as Migrações (OIM) registrou 1.782 no mesmo período do ano passado.

» O Mediterrâneo central
A rota marítima saindo da Líbia se tornou a principal porta de entrada à Europa desde o fechamento da rota dos Bálcãs. O fluxo proveniente da Líbia se manteve mais ou menos constante desde o ano passado. A maioria dos imigrantes que chegam à Itália é proveniente da África subsaariana.

» Quantos saem da Líbia?

Um relatório recente da Interpol e da Europol calcula que cerca de 800 mil migrantes esperam sair da costa da Líbia até a Europa.

» Como é a viagem desde a Líbia?
A maioria dos migrantes empreendem a travessia a bordo de botes lotados. Muitos partem à noite, sob ameaça, golpes e disparos dos contrabandistas, pois vários querem desistir quando descobrem o péssimo estado das embarcações usadas na travessia.

(Estado de Minas)



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