BNDES: Joaquim Levy caiu por ter rejeitado caça às bruxas de Bolsonaro

BNDES: Joaquim Levy caiu por ter rejeitado caça às bruxas de Bolsonaro

Foto: Antonio Cruz – Agência Brasil

A Associação de Funcionários do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) enxerga com preocupação a sucessão de Joaquim Levy no comando do banco. Ele pediu demissão neste domingo, 16, após críticas públicas do presidente Jair Bolsonaro ao seu comportamento à frente da instituição. Para o economista Arthur Koblitz, vice-presidente da AFBNDES, a queda ocorreu porque Levy não validou a “caça às bruxas” que o governo quer que seja feita no banco. 

“Vai ser difícil encontrar um nome que tenha responsabilidade de gestão e amor a sua biografia e que irá topar as demandas do governo”, afirmou. Segundo Koblitz, as exigências de Bolsonaro são a abertura da chamada “caixa-preta” do banco, com investigações de supostas propinas pagas a funcionários para que se concedesse empréstimos a empreiteiras nos governos do PT, e o pedido de devolução de dinheiro da União injetado no BNDES – essa pauta é do Ministério da Economia comandado por Paulo Guedes.

“Você não encontra entre as pessoas sérias quem ache que o BNDES é uma caixa-preta. Isso não faz sentido e ele ( Bolsonaro) quer alguém que se submeta. O mesmo vale para o lado do Ministério da Economia, que fala em ‘despedalar’ o BNDES devolvendo aportes feitos pela União. Isso é pedalar o BNDES porque desrespeita a Lei de Responsabilidade Fiscal na nossa visão”. O termo ‘despedalar’ foi usado por Guedes em maio, durante um fórum do banco.

Antes do pedido de demissão de Levy vir a público, a associação já havia se manifestado contra as críticas de Bolsonaro ao então presidente do banco. Apesar de divergências sob alguns pontos da atual gestão, como o afastamento da chefe de departamento do Fundo Amazônia e declarações infelizes sobre operações de comércio exterior, a AFBNDES reconhece que Levy “nunca apoiou ou defendeu fantasias e calúnias que o presidente da República, sempre saudoso da campanha eleitoral, insiste em declarar sobre o BNDES”, diz uma nota publicada pela entidade. 

Em meio à expectativa pela substituição de Levy, a associação fará um ato na próxima quarta-feira, 19, contra o que classificam como “desmonte” do BNDES.  A manifestação já havia sido convocada em protesto contra a proposta do relator da reforma da Previdência, Samuel Moreira (PSDB), de acabar com repasses do PIS e do Pasep para o banco.

O ato contará com a participação de cinco ex-presidentes do BNDES: Dyogo de Oliveira (2018-2019), Paulo Rabello de Castro (2017-2018), Luciano Coutinho (2007-2016), Luiz Carlos Mendonça de Barros (1995-1998) e André Franco Montoro Filho (1985-1986). “Acho que o ato agora ganha ainda mais relevância em meio à saída de um nome que foi responsável com a administração do banco, mesmo com todos os pontos dos quais discordamos dele”, completou Koblitz 

Queda

Bolsonaro ameaçou passar por cima do ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem a presidência do BNDES está vinculada, caso Levy não suspendesse a nomeação de Marcos Barbosa Pinto para a Diretoria de Mercados de Capital da instituição. Pinto foi diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

Levy nomeou o Marcos Pinto para função no BNDES. Já estou por aqui com o Levy”, disparou Bolsonaro no Palácio da Alvorada no sábado 15, pouco antes de seguir viagem para Santa Maria (RS) para uma cerimônia militar. “Governo tem que ser assim: quando coloca gente suspeita em cargos importantes e essa pessoa, como Levy, já vem há algum tempo não sendo leal àquilo que foi combinado e àquilo que ele conhece a meu respeito. Ele está com a cabeça a prêmio há muito tempo”, completou.

Após as críticas de Bolsonaro, Levy entregou sua carta de demissão a Guedes neste domingo, como informou o Blog Radar, de VEJA. “Agradeço também, por oportuno, a lealdade, dedicação e determinação da minha diretoria. E, especialmente, agradeço aos inúmeros funcionários do BNDES, que têm colaborado com energia e seriedade para transformar o banco, possibilitando que ele responda plenamente aos novos desafios do financiamento do desenvolvimento, atendendo às muitas necessidades da nossa população e confirmando sua vocação e longa tradição de excelência e responsabilidade”, disse o ex-presidente do banco em nota.

(Fonte: Larissa Quintino – VEJA.com/via MSN)



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